Chegou a hora da verdade para os partidos políticos e, também, para o país. Com o período de convenções partidárias, iniciado na última sexta-feira, o cenário eleitoral estará finalmente desenhado. As decisões tomadas pelos partidos darão a configuração final à primeira eleição presidencial em muitos anos que não será dominada por PT e PSDB, que durante duas décadas duopolizaram o interesse do eleitorado e atraíram a maioria dos demais partidos para suas órbitas.
A primeira resposta que a sociedade terá, à medida que se realizam as convenções, se refere a quais candidaturas eram realmente sólidas e quais eram meros balões de ensaio para fortalecer o nome do partido como parceiro em uma eventual coligação. De todos os nomes que se lançaram até o momento, parece inviável que todos acabem consagrados por suas legendas como candidatos – especialmente nos casos de pré-candidatos que não empolgam o eleitorado até o momento, mas que dispõem de tempo considerável de televisão, mercadoria preciosa nessa corrida de tiro curto em que se tornou a campanha, depois da reforma eleitoral; esta será a primeira disputa pela Presidência da República sob as novas regras.
Após muito tempo em que as opções se resumiam entre o socialismo e a social-democracia, desta vez há candidatos de destaque mais à direita
A indefinição sobre os rumos a tomar vem influenciando o próprio calendário das convenções, tanto que partidos grandes, como o PSDB e o MDB, ou legendas com candidatos mais viáveis eleitoralmente – como a Rede, de Marina Silva, e o Podemos, de Alvaro Dias –, farão suas convenções no último fim de semana do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral e que termina em 5 de agosto. Até lá, esses partidos também esperam ter definido, ou pelo menos encaminhado, os nomes dos candidatos a vice-presidente, já que, até o momento, houve apenas a decisão do PSol pela chapa puro-sangue de Guilherme Boulos e Sonia Guajajara e o anúncio, revogado poucas horas depois, de que Jair Bolsonaro (PSL) teria o general Augusto Heleno (PRP) como vice. O movimento de Bolsonaro contrastou com a tendência de se buscar vices que não sejam “mais do mesmo”, tendo apelo junto a um segmento que complemente o potencial do cabeça de chapa, seja de um ponto de vista regional, seja socioeconômico, seja de acordo com sexo, faixa etária ou bandeiras e causas caras ao candidato e ao eleitor.
As convenções ainda servirão para resolver duas grandes incógnitas. A primeira é a estratégia do PT, que no discurso insiste em lançar a candidatura do ex-presidente Lula, preso em Curitiba e inelegível após sua condenação em segunda instância pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. O partido terá de escolher entre oficializar a retórica, apesar de saber que uma chapa encabeçada por Lula não será aceita pela Justiça Eleitoral, ou consagrar desde já um nome alternativo para não perder tempo na campanha. Abandonar o discurso não será muito difícil para um partido que, nas eleições municipais de 2016, abraçou com gosto políticos de partidos que chamava (e ainda chama) de “golpistas”.
Igualmente importante será a definição do “Centrão”, bloco cujas legendas também têm ventilado alguns nomes. Os partidos que resolverem não lançar chapas próprias atrairão muito interesse dos demais concorrentes, devido às bancadas numerosas que lhes dão tempo de propaganda eleitoral. As possibilidades, aqui, são as mais variadas: os partidos do “Centrão” podem se unir em torno de um ou dois candidatos surgidos dentro do próprio bloco, ou podem se separar e buscar rumos próprios, tendo opções competitivas de coligação ao longo de todo o leque ideológico. E aqui reside outra peculiaridade desta eleição, pois, após muito tempo em que o brasileiro foi chamado a escolher, basicamente, entre o socialismo e a social-democracia, desta vez há candidatos de destaque mais à direita. A opção dos partidos do “Centrão” será decisiva: um bloco unido ganha força para levar seu escolhido ao segundo turno, enquanto um bloco fragmentado eleva as chances de concorrentes em ambas as pontas do espectro político.
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Além dos nomes, o período de convenções também ajudará a definir as plataformas com as quais os candidatos querem conquistar o eleitorado. É preciso que haja quem tenha coragem de defender a agenda de reformas iniciada por Michel Temer – sem, é claro, endossar os inúmeros esqueletos morais e éticos produzidos pelo atual governo. A defesa da responsabilidade nas contas públicas é essencial para fazer um contraponto a eventuais plataformas populistas que podem encantar um eleitorado vitimado pela maior crise econômica da história do Brasil, produzida pela irresponsabilidade fiscal e pela gastança dos governos petistas.
Mais que entre esquerda e direita, ou entre governo e oposição, o grande antagonismo na eleição de 2018 será entre o populismo e a responsabilidade. Ainda que outros temas, como questões morais e de minorias, também tenham importância na mente do eleitorado, o que o brasileiro mais sente na pele é a dificuldade de retomada depois da crise. O que fazer com um Estado enorme, que gasta muito e gasta mal? Reduzir seu tamanho e racionalizar suas despesas, ou negar os problemas óbvios e as bombas-relógio que explodirão daqui a algum tempo, adotando paliativos imediatos? As convenções mostrarão para onde os candidatos caminham; depois disso, é com o eleitor.