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Editorial

Conversa antiga

O governo de Cuba retribui a gentil oferenda de petróleo barato com que é premiado pela Venezuela – único país latino-americano pertencente ao cartel petrolífero mundial – e foi esta semana à ONU expor seus temores de que a corrida pela produção de etanol afetará a produção de alimentos. Embora seja grande produtora de cana-de-açúcar, a melhor matéria-prima para a produção do combustível, Cuba prefere que não prospere a idéia de se desenvolver uma alternativa viável à hegemonia do petróleo, do qual é totalmente dependente. Parece claro, portanto, que sua iniciativa tem a intenção tão-somente de servir aos interesses do benemérito vizinho Hugo Chávez.

Questões políticas à parte, a tese cubana peca por martelar numa idéia velha, semelhante àquela do economista inglês do século XVIII, Thomas Malthus, que previa para breve o fim da humanidade dizimada pela fome por uma única razão: pelos seus cálculos, seria impossível zerar a equação entre os crescimentos da população e o de alimentos, já que o primeiro se dava em progressão geométrica e o segundo em progressão aritmética. Sua profecia, todos sabemos hoje, estava felizmente equivocada.

Mais tarde, os mesmos argumentos que hoje Cuba lança contra o previsível avanço da produção agrícola voltada para o etanol foram usados para condenar, por exemplo, a expansão da soja ou da pecuária no Brasil, nas décadas de 1970 e 1980. A previsão também não se confirmou: o país tornou-se um dos maiores produtores mundiais da oleaginosa e de carne, mas nem por isso deixou de crescer na produção de alimentos para atender suas próprias necessidades e para a exportação.

Duas questões precisam ser lembradas para quem, como o governo cubano, não conhece as potencialidades brasileiras e nem entende de economia de mercado. A primeira é que o Brasil dispõe ainda de 100 milhões de hectares de terras agricultáveis livres. Só com o uso racional dessa área e sem agressão ao meio ambiente é possível produzir todo o alimento de que o mundo precisa. A segunda é que a produção agrícola é controlada pela demanda e pelo preço – são estes os melhores adubos para a lavoura. Se houver demanda e bom preço para todos os segmentos, jamais faltará cana para produzir etanol nem alimentos para saciar a fome mundial.

Um lembrete final: a fome é causada não pela impossibilidade de produzir o que comer, mas pela impossibilidade de comprar o que comer. É a renda da população que determina a demanda e a oferta. O problema da fome está na pobreza, na desigualdade, na injustiça social. Para resolvê-lo, os mecanismos são bem diversos daquele defendido por Cuba.

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