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Editorial

A incerteza cobra seu preço na taxa de juros

A sede do Banco Central, em Brasília. (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil)

Já era esperado que, em sua última reunião do ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central mantivesse a taxa básica de juros, a Selic, nos atuais 13,75% – de fato, foi o que ocorreu, em nova decisão unânime dos membros do colegiado. A inflação ainda está acima do limite máximo de tolerância para 2022 e não há clareza a respeito do futuro da já debilitada saúde fiscal do país. Essa incerteza é tão grande que já está afetando até mesmo o horizonte de médio prazo no qual se julgava ser possível o início de um novo ciclo de queda dos juros.

A mais recente edição do Boletim Focus, no qual o Banco Central reúne as estimativas de vários agentes do mercado financeiro, vem registrando elevação constante nas previsões para a Selic ao fim de 2023. Se há quatro semanas a mediana estava em 11,25%, agora ela já subiu meio ponto porcentual e está em 11,75% – o mesmo ocorre com as previsões para 2024, que hoje têm mediana de 8,5%, contra 8% há um mês. E o comunicado emitido pelo Copom ao fim de sua reunião, na quarta-feira, faz escolhas de palavras interessantes para emitir seu alerta.

Ao falar em “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país”, o Copom mostra como o governo eleito não moveu uma palha para tranquilizar a nação e enviar um sinal de que pretende governar com algum senso de responsabilidade fiscal

Ao tratar dos fatores que produzem “riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação”, o Copom praticamente reproduz o texto do comunicado anterior, do fim de outubro, mas acrescenta uma palavra ao tratar da “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país”. O adjetivo não estava no texto anterior, e dá uma ideia de como o governo eleito não moveu uma palha para tranquilizar a nação e enviar um sinal de que pretende governar com algum senso de responsabilidade fiscal. As promessas do vice Geraldo Alckmin de nada servem quando todas as perspectivas apontam para uma política expansionista que tem tudo para debilitar uma economia que se recuperou este ano, mas que já teria problemas em 2023 mesmo sem o cheque de centenas de bilhões de reais que Lula quer e está conseguindo.

Em vez de entregar apenas os R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões (ou talvez um pouco mais) de que Lula precisaria em 2023 para elevar o valor do Bolsa Família para R$ 600, o Senado já concordou em dar ao novo governo o dobro disso, por dois anos, na PEC fura-teto. Trata-se de uma licença para Lula gastar mais daquilo que já não tem, pois o governo central pode até registrar superávit primário neste ano, mas o resultado nominal seguirá negativo. Se não quiser elevar impostos, a gastança será bancada ou pela emissão de dívida, ou pela emissão de moeda, com as consequências já amplamente conhecidas de muitos, ainda que ignoradas pelo terraplanismo de quem acredita na geração espontânea de dinheiro público. Nenhuma dessas duas opções abre boas perspectivas para que os juros voltem a cair no futuro próximo.

E dinheiro caro por mais tempo significa mais pé no freio nos investimentos do setor produtivo; consequentemente, menos emprego e renda. Se a gastança governamental desenfreada que se desenha efetivamente trouxer de volta a escalada inflacionária que a muito custo está sendo contida agora, teremos um 2023 muito difícil à frente, com os problemas globais sendo potencializados por eventuais escolhas ruins feitas internamente. E aqui não se trata apenas da definição dos nomes para a equipe econômica de Lula, mas de que rumo esses nomes darão à condução da economia, qual o novo arcabouço fiscal que eles devem propor, como pretendem racionalizar o gasto público e reduzir o endividamento governamental. Na campanha presidencial de 2014, Dilma Rousseff acusava seus adversários de pretenderem “plantar inflação para colher juros”; pois é exatamente o que pode acontecer se o petismo apostar na irresponsabilidade fiscal quando subir novamente a rampa do Planalto.

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