Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a taxa Selic em 2% ao ano pela quarta vez seguida.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
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Na última reunião do ano passado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central havia mantido a taxa Selic em 2% ao ano, mas com um aviso: a época de maior previsibilidade estava chegando ao fim. O forward guidance – uma espécie de “antecipação” de decisões futuras do comitê, desde que mantidas certas condições –, que havia sido adotado em agosto do ano passado, poderia ser abandonado, avisou o Copom no início de dezembro. Pois foi justamente o que ocorreu nesta semana, em que os membros do comitê mantiveram a Selic em 2%, mas afirmaram que há muita incerteza no ar para que se possa fazer qualquer sinalização a respeito do que acontecerá na próxima reunião.

Quando o Copom passou a trabalhar com o forward guidance, estabeleceu três condições para que os juros continuassem no patamar atual: as expectativas de inflação no chamado “horizonte relevante” (que para o Copom é o próximo ano), as expectativas de inflação no longo prazo e a política fiscal precisariam estar sob controle. Pela primeira vez em seis meses, “o Copom avalia que essas condições deixaram de ser satisfeitas”, de acordo com o comunicado emitido ao fim da reunião desta semana.

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Muitos fatores que influenciam a decisão sobre os juros são incontroláveis; o pouco que depende exclusivamente de Brasília precisa entrar de vez na agenda política e ser encarado como prioridade

Os últimos 45 dias trouxeram uma série de notícias preocupantes. O IPCA, a inflação oficial, terminou 2020 ligeiramente acima da meta do Banco Central, ainda que dentro da faixa de tolerância – 4,52% contra uma meta de 4%. Para este ano, a meta é de 3,75% e a projeção citada no comunicado já está em 3,6%. O choque inflacionário recente continua a ser visto como algo temporário, mas ao mesmo tempo o Copom admite que ele está durando mais que o previsto inicialmente.

Mas a inflação está longe de ser a única preocupação. Ao mesmo tempo em que vários países iniciam a vacinação contra a Covid-19 – e o Brasil também o faz, ainda que em marcha lenta –, novas variantes do coronavírus exigem atenção, já causam novos efeitos negativos sobre a economia e levantam dúvidas sobre o quanto as vacinas atuais serão capazes de proteger a população também contra essas novas cepas. Além disso, persiste a indefinição sobre o futuro das reformas e do ajuste fiscal brasileiro. O comunicado não menciona a eleição para as presidências da Câmara e do Senado, mas elas serão decisivas, pois os eleitos, ao definirem as pautas e apontarem relatores, serão fundamentais para o sucesso ou o fracasso das reformas.

Com tamanha indefinição em tantas áreas, o forward guidance, por mais útil que fosse para que governo e setor produtivo planejassem os próximos passos, fica inviável. A partir de agora, a análise será sempre feita de acordo com a situação presente em cada reunião. O Copom fez questão de ressaltar que o fim do forward guidance não significa automaticamente um aumento nos juros, mas apenas o fim de uma época de previsibilidade na definição da Selic. O cenário atual continua pedindo juros baixos, afirmam os membros do comitê.

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Eliminar completamente a incerteza é impossível, tantos são os fatores que independem da ação de qualquer ator político. Justamente por isso, o pouco que depende exclusivamente de Brasília precisa entrar de vez na agenda política e ser encarado como prioridade: seguir com as reformas, sem desidratá-las; aprovar e realizar as privatizações; preservar o teto de gastos e abandonar gambiarras orçamentárias; colocar esforços para que a campanha de vacinação contra a Covid-19 ganhe velocidade e abrangência. Se Executivo e Legislativo fizerem sua parte, poderão contribuir para que os juros se mantenham baixos; se tratarem as reformas e a Covid-19 com displicência, não haverá milagre que sustente a Selic no patamar atual.