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Editorial

Copom responde com firmeza à histeria da esquerda

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto: taxa Selic foi mantida apesar de pressão de Lula e do PT por queda dos juros. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A reunião do Copom encerrada na última quarta-feira trazia consigo muitas expectativas, não apenas por se dar em uma “Super Quarta”, com decisões de outros bancos centrais importantes mundo afora, mas também porque as pressões sobre o Banco Central brasileiro, vindas do governo, de dirigentes petistas e de entidades-satélites do petismo, vinham se avolumando. No fim, a técnica prevaleceu sobre a política e os membros do colegiado decidiram pela manutenção da Selic nos atuais 13,75%, apontando uma série de fatores, incluindo a incerteza global após a crise bancária nos Estados Unidos e na Suíça, e a resiliência da inflação brasileira, que não deve voltar para dentro dos limites de tolerância da meta para este ano.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, chamou de “preocupante” o comunicado divulgado ao fim da reunião. Mas, a bem da verdade, não existe muita diferença entre o que o Copom afirmou no dia 22 e o que vem dizendo há meses, até mesmo antes de Lula ser eleito. Houve até alguns acenos ao governo: se em 1.º de fevereiro o comunicado falava em “ainda elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país”, agora retirou o adjetivo e fala apenas em “incerteza”; ao mencionar a volta da cobrança de impostos federais sobre combustíveis, o Copom não citou seu efeito sobre a inflação, mas ressaltou que ela “reduziu a incerteza dos resultados fiscais de curto prazo”, vendo o copo meio cheio do ponto de vista fiscal. Mesmo o trecho mais incisivo, que promete a retomada do “ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, já apareceu em comunicados anteriores e é condizente com a missão primária do Banco Central, a preservação do valor da moeda.

Lula pode “continuar batendo” e sindicalistas podem queimar bonecos de Roberto Campos Neto, mas isso não vai levar à queda dos juros. Selic mais baixa só virá com um arcabouço fiscal bem montado, reformas estruturantes e menos intervencionismo

O que realmente incomoda o governo no comunicado do Copom é o fato de que ele desnuda a responsabilidade dos poderes Executivo e Legislativo no que chama de “conjuntura marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos”. Se o mercado financeiro começa a perceber que o Brasil não leva a sério sua saúde fiscal e que este problema pode se tornar mais duradouro, isso não é culpa do Banco Central, mas dos atores políticos que dia sim, dia também, falam e agem como se a responsabilidade fiscal não importasse.

A mensagem do Copom é bastante clara: Lula pode “continuar batendo” e sindicalistas podem queimar bonecos de Roberto Campos Neto na Avenida Paulista (o que em outros tempos, e com outros personagens, certamente seria chamado de “discurso de ódio”), mas isso não vai levar à queda dos juros. Selic mais baixa só virá com um arcabouço fiscal bem montado – porque, obviamente, de nada adiantará uma regra frouxa –, reformas estruturantes como a tributária e a administrativa, e menos intervencionismo na economia. E, ao afirmar isso, o Copom está longe de se portar como ator político; está apenas ressaltando o óbvio que o governo ignora por acreditar que meras promessas de anúncio de um arcabouço fiscal cujo conteúdo é desconhecido deveriam bastar para, por algum poder mágico, acalmar os investidores.

Quando teve a faca e o queijo na mão para mudar a meta de inflação, o governo não o fez. Então, o Banco Central seguirá fazendo o que for preciso para trazer a inflação de volta para o objetivo traçado, e o faz com as ferramentas que tem à disposição. Já o governo, em vez de se juntar ao esforço e contribuir efetivamente para restaurar a saúde fiscal do país, continua apostando no palavrório e na histeria para baixar os juros na marra. Felizmente, Campos Neto não é para Lula o que Alexandre Tombini foi para Dilma Rousseff.

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