Dois focos de tensões internacionais, a ameaça de guerra entre as Coreias do Sul e do Norte e o controvertido programa nuclear do Irã estão colocando à prova mais uma vez a capacidade diplomática de dissuasão dos chefes de Estado. Peça-chave desse contexto de potencial bélico, os Estados Unidos se desdobram para reafirmar seu papel de líder como negociador diante de sua supremacia militar e econômica.

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A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, que está diante das negociações, enfrenta dois grandes desafios. O primeiro é fazer com que o pequeno diálogo travado entre as duas Coreias não se perca, o que pelos acontecimentos recentes parece que já aconteceu. E o outro é convencer o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad a cumprir o tratado firmado recentemente com Brasil e Turquia e pare de desenvolver tecnologia nuclear no país. Tudo isso sem se envolver em conflitos armados.

O assunto mais urgente e espinhoso é o das Coreias, porque a crise latente entre os dois países, há várias décadas, ganhou neste momento um contorno mais nítido de conflito bélico, com repercussões imprevisíveis. O estopim da crise se iniciou em 26 de março, com o ataque norte-coreano à corveta sul-coreana "Cheonan", o que causou o naufrágio do navio e matou 46 marinheiros. Mesmo após o ataque mais violento das duas últimas décadas por parte do país comunista, a Coreia do Sul optou por ser mais cautelosa e não reagiu de imediato. Mas não deixou a provocação passar em branco e rompeu as relações entre os dois países nesta terça-feira.

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Com o corte, o governo do Norte expulsou todos os funcionários sul-coreanos de um complexo industrial conjunto em território norte-coreano e ameaçou "bloquear" o acesso dos demais portadores de passaporte do país vizinho. O governo comunista também assegurou que não retomará nenhum diálogo durante o mandato do atual presidente da Coreia do Sul, Lee Myung-bak, e anun­­ciou exercícios de guerra.

A perspectiva de que haja um confronto entre os países orientais afetou também as bolsas de valores ao redor do mundo. Tal possibilidade reforçou a opção pela cautela entre os investidores, o que fez com que várias ações de bancos perdessem valor.

Em Seul, ontem, a secretária Hillary Clin­­ton reiterou o apoio total dos EUA à Coreia do Sul e pediu que a Coreia do Norte interrompa o que os norte-americanos consideram "provocações" e "políticas de ameaças beligerantes". Hillary chegou à capital sul-coreana depois de duas reuniões de emergência, em Tóquio e Pequim.

Do Japão, ganhou apoio explícito, o que era de se esperar. A China prometeu "colaboração". Mas ficou numa posição incômoda. A exemplo do Irã, pode ser instada a dar um voto de condenação ao governo de Pyongyang no Conselho de Segurança da ONU, seu im­­previsível vizinho, correndo o risco de perder o seu grau de "potência estabilizadora", como querem os aliados ocidentais, nesta região da Ásia.

Por pressão norte-americana, a questão nuclear do Irã caminha para um desfecho. Os EUA se dizem satisfeitos com as negociações de novas sanções ao Irã. Hillary Clinton havia anunciado na semana passada que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU haviam chegado a um acordo prévio sobre uma quarta rodada de sanções ao Irã. Tanto que Washington desconsiderou totalmente a carta que Teerã en­­viou à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), sobre o acordo firmado com o Brasil e a Turquia. Clinton disse que o ter­­mo tem "muitas deficiências".

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Esses são dois conflitos que ameaçam a estabilidade mundial. É preciso que a comunidade internacional se posicione claramente contra as ameaças belicistas tanto da Coreia do Norte como do Irã. Chamuscado pelo fracassado acordo nuclear, o Brasil, nes­­se contexto, precisa reposicionar a sua diplomacia, para recuperar a credibilidade perdida perante os líderes ocidentais diante desta e de outras questões internacionais.