Praia do Rosa, em Imbituba (SC), no feriado de Finados: aglomeração favoreceu nova alta nos índices de Covid-19.| Foto: Reprodução
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A corrida pela vacina contra a Covid-19 pode estar prestes a definir seus primeiros vencedores: alguns laboratórios já vêm divulgando as taxas de eficácia de suas vacinas, todas acima de 90%. Na maioria dos estados e cidades, boa parte das atividades econômicas, mesmo as não essenciais, já retornou, ainda que com algumas restrições quanto a lotação e distanciamento. As linhas de transporte intermunicipal e interestadual, seja rodoviário ou aéreo, vêm sendo restabelecidas. Mas nada disso significa que a pandemia acabou. Por mais bem-vindas que sejam as medidas que relaxam as restrições instituídas quando a curva de contágio pelo coronavírus, elas precisam da colaboração da sociedade para que o Brasil não volte a sofrer justamente quando o mundo está tão perto de uma virada decisiva contra a doença.

Depois de um período de arrefecimento da pandemia, com queda expressiva nos números de casos e mortes, os números brasileiros voltaram a subir. Alguns estados e capitais já registram nova alta na ocupação de leitos hospitalares e UTIs. Os dados do Imperial College de Londres mostram que o Brasil voltou a superar o nível de 1 na taxa de retransmissão do vírus – quando ela está acima disso, a pandemia está acelerando; quando é menor que 1, a doença está retraindo. O Brasil havia passado os últimos meses com bons indicadores, chegando a uma taxa de 0,68 em 10 de novembro. Bastou uma semana, no entanto, para que ela subisse para 1,1 – ou seja, cada 100 pessoas doentes retransmitiam o coronavírus para outras 110. Sendo esse número uma média do país todo, obviamente há áreas em que o contágio está freado, e outras em que ele está ainda mais acelerado. O Info Tracker mantido por USP, Unesp e Fapesp, por exemplo, indica nesta quarta-feira uma taxa de 0,51 para a Região Norte do país, mas também um preocupante índice de 1,81 na Região Sul.

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A continuação do retorno gradual das atividades depende de a sociedade não enxergá-lo como um indicador de que o perigo acabou

Mesmo assim, cidades e estados que estabeleceram seus próprios sistemas de “bandeiras coloridas”, indicando os tipos de restrições em vigor, que estabelecimentos podem abrir e que tipos de atividades podem ser realizadas, estão avaliando com muito cuidado qualquer mudança. Em alguns casos está ocorrendo o contrário: a prefeitura de Curitiba, por exemplo, acabou de liberar as escolas particulares para que retomem atividades presenciais diárias para crianças de até 10 anos, baseando-se em estudos sobre o efeito do coronavírus sobre essas crianças, que tendem a ter sintomas mais leves, quando os apresentam, e menor chance de passar a doença a outros.

Há bons motivos para que prefeitos e governadores não tenham o mesmo comportamento do início da pandemia. Já ficou mais que comprovado o efeito catastrófico do abre-e-fecha sobre os negócios, e sabe-se muito bem que muitos brasileiros simplesmente não têm como ficar em casa enquanto veem minguar ou desaparecer os recursos que garantem a sobrevivência de suas famílias. Além disso, mesmo antes do coronavírus já eram conhecidos os inúmeros danos à saúde mental provocados por quarentenas prolongadas e de duração indefinida. A população cansada encontrou sua válvula de escape na série de feriados prolongados iniciada em setembro.

Se queremos que as restrições não voltem a se intensificar, este é o momento de a sociedade mostrar que está à altura do desafio de reduzir novamente o ritmo de contágio com um comportamento responsável. É preciso encontrar o meio termo saudável entre o medo paralisante que – compreensivelmente – dominou muitos nos meses iniciais da pandemia e o descuido irresponsável que, infelizmente, pode ser presenciado em muitas cidades. Ainda não é momento para aglomerações, nem para romper o distanciamento nas atividades do dia a dia. O uso de máscaras, exigência perfeitamente amparada pelo princípio da proporcionalidade, continua necessário, bem como todas as medidas de higiene que, esperamos, se tornem hábito mesmo depois que a Covid-19 passar, já que servem para evitar muitas outras doenças.

Só se baixa a guarda quando a luta já foi vencida. Mas isso ainda não ocorreu no caso do coronavírus. A continuação do retorno gradual das atividades depende de a sociedade não enxergá-lo como um indicador de que o perigo acabou. Isso só ocorrerá quando parcela bastante substancial da população estiver imunizada. Bem sabemos que, apesar da expressão “novo normal”, não há nada de propriamente normal em não poder demonstrar afeto a parentes e amigos, não estar junto a outras pessoas que têm os mesmos interesses para desfrutar de um evento artístico ou esportivo, olhar com desconfiança para os demais e evitar a interação o máximo possível. Mas não se pode apressar o retorno à verdadeira normalidade com desleixo e comportamentos irresponsáveis. A cautela continua sendo a palavra de ordem para que não percamos mais brasileiros para o coronavírus bem quando o mundo parece próximo de poder vencer a doença.

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