A conjuntura brasileira, com inflação baixa à custa de juros altos e câmbio desalinhado, proporcionou preços estáveis ao consumidor e carreou apoio político para o governo. Ela se mostra positiva para ganhar eleições, mas contrata problemas futuros – antevistos por observadores e, seguramente, pelos membros da equipe governamental. Por isso um assessor presidencial revelou, após as cerimônias do Sete de Setembro, que ainda neste ano serão iniciadas medidas corretivas: enxugamento de despesas, estímulo a capitais externos e ampliação do investimento em infra-estrutura.

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Tais providências informadas pelo sr. Gilberto Carvalho, o paranaense que chefia o gabinete do presidente Lula, registram que os líderes atuais acompanham a crônica histórica. Em períodos anteriores, outros governantes, ao ignorarem a sensatez, colheram fracassos. Entre eles, à distância de meio século, situa-se o então presidente Getúlio Vargas, que, após dirigir o Brasil na fase crítica da 2.ª Guerra Mundial, voltou ao poder em 1951 com estratégias de raiz populista, caindo numa crise política que o levou ao suicídio.

Mais recentemente, o ex-presidente Sarney repetiu o erro ao pretender corrigir deficiências macroeconômicas com o congelamento de preços, lançamento de moeda sem sustentação e assim por diante. Após curta "lua-de-mel" com a estabilidade, ele também fracassou, deixando o poder com inflação mensal de 84%. O atual governo teve bom senso ao manter políticas herdadas do sr. Fernando Henrique, mas não corrigiu distorções como a ancoragem do valor do "real" numa altíssima taxa de juros.

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Essa distorção, agravada com a evolução da despesa pública – que saltou de 14,44% em 1996 para 17,60% em 2005 – e sua contrapartida na carga tributária (de 26% para 40,5% do PIB ajustado) –, resultou na desorganização econômica a que assistimos: o PIB estagnou em 2%, a poupança investida caiu para 16%, a produção agropecuária recuou para 112 milhões de toneladas de grãos e a importação de bens de consumo deu um salto.

Os casos se multiplicam: no setor têxtil, empresários e operários protestaram na semana passada: antes exportador de vestuário, moda e calçados, o país se tornou importador de produtos oriundos da China, que ainda desloca marcas brasileiras em terceiros mercados. Na mesma linha, líderes do setor automotivo assinalam que no cenário globalizado o Brasil precisa produzir e exportar mais automóveis, porém o ramo é afetado por fatores internos como a incidência da mais alta carga tributária do mundo, e, externos – desalinhamento cambial.

Esse desnivelamento bloqueia a indústria nacional, porque os consumidores preferem comprar artigos finais importados, o que contrata mais estagnação numa base produtiva ainda não consolidada – segundo alertou o professor Luciano Coutinho, durante palestra na Federação das Indústrias do Paraná. Em conclusão, o modelo atual – gastos, juros e câmbio – pode ganhar eleições, mas precisa ser revisto para não comprometer o futuro.