Foi rápido desta vez. Menos de uma semana após ter seu nome envolvido em suspeita de ter recebido propina do empreiteiro Zuleido Veras, dono da construtora Gautama, o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, entregou o cargo na noite de terça-feira. Contrariou a regra temporal estabelecida no primeiro mandato do presidente Lula, segundo a qual, a despeito de denúncias muito mais cabeludas, ministros e auxiliares próximos do Palácio do Planalto mantinham-se teimosamente no posto como foi o caso, notório, do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, acusado de ser o chefe da quadrilha que, com recursos públicos, sustentava o esquema do "mensalão".
Muito embora a culpa do ministro Rondeau não esteja configurada de modo definitivo e irreparável, a rapidez com que aconteceu seu afastamento não deixa de ser um sinal salutar de uma bem-vinda mudança de sistema da Presidência. Ao contrário do método que até há pouco vigorava, pelo qual o governo purgava por meses suas mazelas morais, a nova postura indica uma atitude mais afirmativa de Lula diante de episódios que só desgastam sua administração perante a opinião pública.
Este, no entanto, não é o aspecto mais importante a ser examinado na questão. Mais relevante é entender as causas da irritante persistência com que surgem e ressurgem casos de corrupção que, continuamente, corroem as entranhas do governo. Certamente vamos encontrá-las na igualmente persistente impunidade que protege os agentes públicos flagrados na prática de malfeitorias com recursos do Erário. A não-punição rápida e exemplar, com certeza, só serve para encorajar a proliferação de corruptos e corruptores como quase diariamente se constata por meio da estrepitosa divulgação das operações especiais de caça promovidas pela Polícia Federal.
A Operação Navalha que desnudou os tentáculos lançados pelo empreiteiro Zuleido Veras em todas as esferas do Poder Público brasileiro provavelmente terá o mesmo miserável destino das anteriores, isto é, a de resultar em quase nada além do costumeiro e momentâneo escândalo, que, embora didático, não se tem revelado suficiente para coibir o aparecimento do seguinte. Muitos são os comprovadamente culpados; poucos, porém, os alcançados pelas mãos da Justiça.
Os ritos processuais da anacrônica legislação brasileira, que abrem as portas para uma infinidade de recursos procrastinatórios bem urdidos por competentes e bem pagos advogados, favorecem o trâmite indefinidamente moroso dos processos pelos escaninhos da Justiça até que se percam na lembrança da opinião pública e, finalmente, na absolvição geralmente por filigranas meramente formais dos culpados. Esta tem sido a regra infelizmente confirmada pelo fato de que nem mesmo os juízes escapam da tentação de submeter-se ao tráfico remunerado de sentenças.
O caso de Silas Rondeau e de todos os circunstantes menos notáveis envolvidos no esquema de Zuleido Veras pode chegar ao mesmo triste fim isto é, a impunidade geral e irrestrita. E então é só esperar para nos escandalizarmos inutilmente com os próximos.
É preciso não esquecer, também, de uma outra causa que explica a freqüência dos escândalos. Ela é encontrável no processo de coalizão partidária que conforma a equipe de governo. Por meio dele, loteiam-se os cargos segundo uma proporcionalidade que não leva em conta o interesse público ou o passado e a competência dos escolhidos mas o montante de verbas que vão administrar comparativamente ao número de votos que o partido pode garantir no Congresso. Quanto mais votos possuir o partido, mais ricos em orçamento e obras são os ministérios que se lhe destinam.
Embutidas nesse esdrúxulo e pouco republicano conceito de repartição de cargos estão as facilidades que os chefetes partidários encontram para manipular interesses, protegendo apaniguados e auferindo as vantagens correspondentes. Lamentavelmente, o presidente Lula embarcou neste método para assegurar a maioria com que hoje conta no Congresso.
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