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Nova cepa do coronavírus, a ômicron pode acelerar imunização da população mundial.| Foto: Diego Azubel/EFE

O Brasil registrou, na quinta-feira, a primeira morte de uma pessoa infectada com a variante ômicron do coronavírus. Um homem de 68 anos, com comorbidades, doença pulmonar crônica e hipertensão arterial, e que havia tomado três doses da vacina, faleceu no município de Aparecida de Goiânia (GO). Enquanto isso, o Brasil vê o número de novos casos de Covid-19 dar um salto e retornar a patamares de meses atrás, embora também haja motivos para esperar que os piores dias da pandemia no Brasil não se repitam.

Há três razões principais para a explosão no número de novos casos de Covid registrados diariamente: graças a um apagão de dados do sistema de saúde, há casos antigos que só agora estão entrando nas estatísticas. Mas também há a combinação entre as aglomerações das festas de fim de ano e a circulação da variante ômicron, comprovadamente mais contagiosa que as anteriores. Nos últimos dias, o Brasil voltou a superar a marca de 30 mil novos casos diários de Covid, o que não ocorria desde agosto do ano passado.

O fato de a ômicron estar se mostrando menos perigosa que outras variantes do Sars-CoV-2 não significa que a sociedade possa baixar a guarda completamente

Mas, se os números de novos casos dispararam, o mesmo não pode ser dito de outros indicadores ainda mais importantes para se avaliar a gravidade da pandemia, como o número de mortes e os índices de ocupação de leitos hospitalares. A média móvel de óbitos permanece constante, e, se várias cidades estão com postos de saúde e unidades de pronto-atendimento lotados com pacientes apresentando sintomas de Covid-19, o mesmo não está ocorrendo nos hospitais e UTIs. Em Curitiba, por exemplo, a secretária de Saúde, Márcia Huçulak, em entrevista à RPCTV, afirmou que, apesar de a cidade estar vivendo um “tsunami de Covid”, as autoridades sanitárias não têm registrado aumento nem de casos graves, nem de mortes – o que repete uma tendência que a Organização Mundial de Saúde vê globalmente: segundo a OMS, na semana de 27 de dezembro de 2021 a 2 de janeiro de 2022 o número de casos subiu 70%, mas o de falecimentos regrediu 10%.

A explicação é dupla. Em primeiro lugar, há o avanço da vacinação, que em vários países já atingiu patamares acima de 70% da população adulta. Se por um lado é verdade que a vacina não tem impedido as pessoas de contrair e transmitir a Covid, por outro sabe-se que ela é capaz de impedir o agravamento da doença na grande maioria dos casos, motivo pelo qual os números de mortes e ocupação de leitos hospitalares já vinham caindo antes do surgimento da ômicron. A isso soma-se a forte suspeita de que a nova variante, mesmo sendo mais contagiosa, não é tão agressiva quanto as anteriores. Se essa característica se confirmar, e se a ômicron se tornar a forma dominante do vírus nas próximas semanas ou meses, passa a ser possível até mesmo que a ômicron acelere o fim da pandemia, assim como ocorrera com a gripe espanhola, que deixou de ser um flagelo mundial quando o vírus sofreu mutações que o deixaram bem menos letal.

De qualquer maneira, o fato de a ômicron estar se mostrando menos perigosa que outras variantes do Sars-CoV-2 não significa que a sociedade possa baixar a guarda completamente. O diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, lembrou que não se pode classificar a ômicron como “leve”; além disso, a velocidade de contágio já está novamente forçando o sistema de saúde mesmo sem aumento em hospitalizações e mortes, pois a lotação mudou para as estruturas de pronto-atendimento, e profissionais contaminados continuam tendo de sair da linha de frente do combate à doença. Os cuidados básicos seguem necessários e a decisão de cancelar carnavais de rua em várias capitais brasileiras é demonstração de prudência.

O surgimento da ômicron foi motivo de preocupação em todo o mundo, uma reação justificável em um primeiro momento, depois de quase dois anos de pesadelo. Mas, se as observações iniciais sobre a menor agressividade do vírus se confirmarem; se a tendência de queda nos indicadores como óbitos e ocupação de leitos hospitalares se confirmar; e se a cobertura vacinal seguir crescendo, especialmente nos países onde ela ainda é baixa, o susto poderá ser substituído pela esperança de que a pandemia finalmente recue. Ainda é cedo para saber se o mundo conseguirá se livrar totalmente do coronavírus ou se terá de conviver com ele em uma forma mais leve, que seguirá circulando de forma endêmica, com surtos ocasionais e localizados, e trazendo riscos maiores apenas às pessoas de saúde mais frágil. Neste segundo cenário, a Covid-19 se tornaria algo semelhante à gripe comum, exigindo cuidados, campanhas de vacinação periódica, mas sem justificar medidas drásticas como lockdowns e interrupções de atividades. Será possível, enfim, retornar ao cotidiano perdido no início de 2020, já que o dito “novo normal” de normal não tem nada.

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