Quando o presidente do Senado, Renan Calheiros, fez pouco de suas responsabilidades e remeteu à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa os requerimentos do governo e da oposição para a criação de CPIs que investigassem a Petrobras e uma série de outras denúncias, o desfecho já estava decidido: como a CCJ tem ampla maioria governista, obviamente prevaleceria a farsa que o PT montou para inviabilizar as investigações sobre a gestão desastrosa da estatal, responsável por escândalos como os das refinarias de Pasadena e Abreu e Lima, as supostas propinas pagas por uma empresa holandesa e os malfeitos de ex-diretores como Paulo Alberto Costa, preso na Operação Lava Jato, da Polícia Federal.
Ontem, a CCJ aprovou, como se imaginava, o pedido do governo para a criação de uma CPI que investigue não apenas a Petrobras, mas também o cartel dos trens paulistas e o Porto de Suape, em Pernambuco acusações lançadas sob medida para atacar os partidos dos dois principais candidatos de oposição a Dilma Rousseff em outubro, Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). O PT, afinal, não quer investigar nada; quer apenas tumultuar a apuração das graves denúncias que envolvem a Petrobras, que em apenas um ano perdeu mais de 100 posições no ranking das maiores empresas do mundo.
É claro que uma CPI que se proponha a investigar tudo vai acabar não investigando nada. A falta de foco, proposital, vai arruinar qualquer tentativa de descobrir o que de fato acontece nos bastidores da maior empresa brasileira. Como bem disse, na terça-feira, o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, se o PT quisesse investigar até o Trem das Onze, que pedisse a abertura de uma CPI específica, pois tem assinaturas suficientes para tal. Não é coincidência que o escândalo dos trens paulistas tenha aparecido na imprensa há tanto tempo e só agora, quando a oposição pede a investigação sobre a Petrobras, os petistas tenham se dado conta de que ele merecia uma CPI. "Querem embaralhar as cartas", resumiu o tucano.
O PT demonstra, assim, mais uma vez, que tem compromisso apenas consigo próprio; não tem compromisso com a transparência, com o patrimônio do Estado e dos brasileiros, com a decência na administração pública, nem mesmo com a coerência pois o partido pedia uma CPI que investigasse fatos completamente independentes entre si enquanto tentava inviabilizar a CPI da oposição, que só pretendia investigar a Petrobras, alegando que as denúncias envolvendo a estatal eram desconexas.
Durante seus anos no poder, o PT já atacou uma série de instituições: as agências reguladoras, aparelhadas pelo partido, perderam a força necessária para defender o consumidor; com o mensalão, o partido tentou comprar o Legislativo para submetê-lo ao Executivo; o Supremo Tribunal Federal sofreu uma campanha de desmoralização constante desde o início do julgamento dos mensaleiros. Agora, o PT destrói as CPIs, um dos poucos recursos que restam à oposição para cumprir seu papel de fiscalizar o governo. A partir de agora, sempre que surgir uma iniciativa de CPI que possa prejudicar o governo, bastará à base aliada sugerir uma comissão "combo", acrescentando mais um punhado de assuntos variados para atacar a oposição, para matar no nascedouro a investigação.
Especialmente triste para o Paraná é o fato de a senadora Gleisi Hoffmann estar na linha de frente da farsa petista para acabar com a investigação sobre a Petrobras. "Apresentaremos também um mandado de segurança ao Supremo Tribunal Federal com base nos mesmos argumentos para que se conceda uma liminar para que se suspenda a instalação da CPI [da oposição] por não atendimento da determinação e conexão dos fatos", prometia, ontem, na CCJ, enquanto seu grupo garantia a aprovação da "CPI de tudo", em contradição com o que alegava a senadora para atacar a "CPI só da Petrobras". Já existe um pedido, da oposição, para que o Supremo coloque ordem no caos causado pelo governo e mantenha o foco na CPI. O plenário do Senado decidirá na próxima terça-feira se segue ou não o entendimento da CCJ, mas tudo indica que o Judiciário, agora, é a única esperança de que tenhamos uma investigação decente sobre o desastre que tem sido a administração da Petrobras.
Dê sua opinião
Você concorda com o editorial? Deixe seu comentário e participe do debate.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Ataque de Israel em Beirute deixa ao menos 11 mortos; líder do Hezbollah era alvo