Em sua primeira visita ao Paraná depois da posse, a presidente Dilma Rousseff lançou na semana passada no estado o Plano Safra. A agropecuária brasileira terá à sua disposição na safra 2011/2012 o maior volume de recursos da história para financiar a produção. O orçamento é de R$ 123 bilhões, um valor recorde, 6% acima do disponibilizado na temporada anterior e que foi multiplicado por cinco desde a safra 2002/2003.
A notícia parece boa, mas foi recebida com ressalvas pelo setor produtivo. Se por um lado os agricultores comemoram o aumento do crédito oficial, por outro se perguntam se esses recursos vão mesmo chegar em suas mãos. Argumentam que de nada adianta oferecer, no papel, cifras bilionárias se o dinheiro não chega ao campo. Na lógica do agricultor, crédito bom é crédito no bolso, e não no banco.
Para entender a preocupação, basta olhar para trás. E não precisa ir muito longe. Nas últimas três safras, o valor efetivamente aplicado pelo governo no setor rural através do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) ficou abaixo do programado. Em maio, faltando um mês para o encerramento oficial da temporada 2010/2011, mais de R$ 20 bilhões ainda não haviam deixado os cofres públicos. O montante equivale a 18% do volume total de recursos disponibilizado pelo governo no último ciclo. Os números consolidados da safra passada ainda não foram divulgados pelo Ministério da Agricultura, mas o balanço final deve acusar sobra de ao menos R$ 10 bilhões.
São vários os motivos apontados pelos agricultores para o "encalhe". O primeiro é a morosidade do processo em si. Do pedido de financiamento pelo produtor até a efetiva liberação do crédito pela instituição financeira, há um longo e burocrático caminho a ser percorrido. Como o anúncio do PAP costuma ocorrer em junho, nem sempre o dinheiro chega no campo a tempo para custear o plantio, que, efetivamente, começa em setembro, mas precisa ser planejado muito antes.
O segundo diz respeito às dificuldades de acesso ao crédito oficial impostas pelo rigoroso sistema de classificação de risco das instituições financeiras que "distribuem" o dinheiro público. Para ter seu financiamento liberado, o produtor precisa passar pelo exigente crivo do sistema bancário, que muitas vezes classifica como inadimplente aquele que, apesar de ainda não ter saldado dívidas contraídas em safras anteriores, paga em dia suas parcelas.
Por esses critérios, a dívida dos agricultores com o governo soma R$ 114 bilhões. O setor produtivo, contudo, contesta o cálculo e o próprio Banco do Brasil, principal canal de distribuição dos recursos do PAP, não acredita que as cifras sejam assim tão polpudas. Nas contas do Banco do Brasil, o calote propriamente dito somaria perto de R$ 10 bilhões. A discussão é boa e já chegou a Brasília, onde o Congresso Nacional discute a renegociação desse passivo.
De qualquer maneira, ainda que por vezes fique apenas no papel, a multiplicação dos recursos mostra que o governo está ciente da importância do campo para economia do país e está, sim, disposto a apostar no setor. E com razão. O agronegócio movimenta R$ 200 bilhões, responsável por nada menos que um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil.