Alcançar metas de crescimento elevadas sempre foi o sonho de todos os governantes. Afinal, uma economia aquecida gera milhares de novos empregos, estimula o consumo a patamares nunca vistos e produz as decantadas riquezas que uma nação tanto precisa para atingir novas etapas de desenvolvimento. O anúncio de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 2,7% nos três primeiros meses do ano, na comparação com o trimestre anterior, projetando uma expansão de 11,2% para o ano todo, gerou este clima de euforia na esfera oficial de Brasília. O presidente Lula chegou a dizer que o Brasil merece um crescimento "exuberante".
O arroubo de Lula, que faz parte do atual figurino eleitoral e das atitudes esperadas de um mandatário na presença de fatos positivos, no entanto, esconde duas verdades, uma irônica e outra cruel: os números reluzentes do PIB como esses, que não se viam desde 1996, mostram mais deficiências do Brasil do que virtudes; e, por incrível que pareça, o país terá que "rejeitar" esse crescimento.
A realidade é que a expansão da economia brasileira a um "ritmo chinês", como apontam os dados divulgados pelo IBGE, não é sustentável. Está claro, para a maioria dos economistas, que o país ainda não suporta um crescimento tão acelerado como esse, sobretudo em virtude da falta de infraestrutura e de mão de obra. Além disso, existe o perigo inflacionário. E os economistas vão mais longe: se o crescimento continuar nesse nível, teremos apagões na infraestrutura, ou seja, colapsos na economia.
Essa forte expansão no trimestre e a potencialidade do PIB mostram, a rigor, que toda a economia tem o seu limite. Embora a expectativa de mercado para o crescimento do PIB neste ano seja de 6,6%, segundo a pesquisa Focus do Banco Central, estima-se que o teto atual de crescimento brasileiro seja de 4% a 5% ao ano. É lastimável.
O remédio de sempre é amargo: a inflação em alta (acumula uma elevação de 5,26% nos 12 meses encerrados em abril) já fez acender o sinal amarelo no Comitê de Política Monetária do Banco Central. Na sua última reunião, decidiu elevar os juros novamente. Como já existe muita gente aumentando suas previsões e há uma preocupação latente de que a pressão inflacionária continue forte em 2011, o mercado espera novas altas da taxa de juros. Diante disso, vale a velha regra de que o crescimento em exagero significa sempre que, em algum momento, teremos um freio. Por isso, o ideal é crescer de forma mais estável.
Para o Brasil suportar um crescimento da ordem de 9% ao ano, é necessário expandir ainda mais o porcentual de investimento do PIB. Hoje, esse patamar representa 18% (a China investe 36% do PIB para garantir crescimento médio de 8% a 9% ao ano). Seria necessário chegar a 22% do PIB para o país manter, de forma sustentável, essa taxa crescimento, explica Rogério Sobreira, professor de economia e finanças da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (Ebape FGV). No entanto, caímos no mesmo círculo vicioso de muitos anos: o custo do capital, a carga tributária e o nível de eficiência da educação são gargalos que impedem o Brasil de alcançar marcas desse porte.
O futuro presidente da República, portanto, vai precisar de empenho redobrado para desatar esse nó do crescimento brasileiro. Caso contrário, mesmo com os avanços e os sinais alvissareiros da economia, continuaremos a remar contra a maré.