O Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano foi 1,4% maior que o do primeiro trimestre, informou o IBGE. O desempenho superou previsões anteriores, que estimavam um crescimento não superior a 1%. O PIB é a soma de todos os bens e serviços finais, mais o aumento do estoque de produtos em elaboração. Bens e serviços finais são produtos acabados e em condições de serem consumidos ou investidos, enquanto os produtos em elaboração são aqueles que resultaram do processo produto, mas não estão acabados e prontos para seu uso final.
O motivo da inclusão da variação do estoque dos produtos em elaboração no cálculo do PIB pode ser compreendido a partir de um exemplo simples: se o país iniciou a construção de uma usina de energia em um dado ano e, ao fim do referido ano, a obra da usina chegou à metade do planejado, essa obra é um produto que ainda não está disponível para ofertar energia à população, mas a metade construída é um produto que utilizou materiais, trabalho, capital e iniciativa empresarial; logo, deve ser incluída no PIB realizado naquele ano.
Decompondo o crescimento do PIB, constata-se que o setor industrial deu relevante contribuição para o desempenho ao crescer 1,8% no segundo trimestre, o que é de certa forma esperado, principalmente em função do processamento industrial dos produtos da safra de grãos colhida nos primeiros meses do ano. Outro dado importante, que teve bom comportamento, refere-se ao investimento em capital físico (também chamado de “formação bruta de capital fixo”), que teve aumento de 2,1%. Sobre esse ponto, vale destacar sua importância, pois o aumento do capital fixo ajuda a repor parte da infraestrutura produtiva que se desgasta e sai do processo produto, bem como ajuda a elevar a capacidade do parque produtivo total.
Idealmente, a taxa de investimento deveria ser em torno de 25% do PIB, restando 75% desse mesmo PIB para consumo, mas no Brasil a taxa de investimento tem ficado em torno dos 17%
Sobre a taxa de investimento total do país, vale mencionar que o PIB é composto de duas fatias: uma são os bens e serviços de consumo; outra são os bens de capital físico. Os bens de capital produzidos destinam-se a ampliar a infraestrutura física (rodovias, ferrovias, energia, portos, aeroportos, armazéns, telecomunicações etc.), a infraestrutura empresarial (prédios, máquinas, equipamentos, aparelhos, móveis, utensílios etc.) e a infraestrutura social (escolas, hospitais, postos de saúde, instituições assistenciais, clubes de lazer, prisões etc.). É o aumento do capital físico total do país que define a capacidade futura de produzir e dá os limites de crescimento do PIB.
O aumento do capital físico é o que em macroeconomia chama-se “investimento”; portanto, quanto maior a taxa de investimento, maior será a capacidade de expandir o PIB, o emprego e a renda futura. Idealmente, a taxa de investimento deveria ser em torno de 25% do PIB, restando 75% desse mesmo PIB para consumo, mas no Brasil a taxa de investimento tem ficado em torno dos 17%. Essa taxa, se mantida por muitos anos, responde pela incapacidade de o PIB crescer a taxas expressivas acima do crescimento da população e, assim, impede o aumento do PIB por habitante.
Em outras palavras: a baixa taxa de investimento inviabiliza a meta de colocar o Brasil no grupo dos países desenvolvimentos nos próximos 25 anos. Além disso, a avaliação da economia e das possibilidades de crescimento pelo aumento do PIB a taxas expressivas exige prever fenômenos que puxam o PIB para baixo, pois praticamente não há um único ano sem a ocorrência de um ou alguns dos fenômenos da lista de eventos inibidores da produção, entre os quais se destacam secas prolongadas, chuvas em excesso, desmoronamentos, pandemias, epidemias, endemias, inflação, guerras, explosão de preços internacionais, desabastecimento, crises políticas etc. Isso significa que, no longo prazo, é quase impossível o país ter crescimento regular, constante e sólido.
Para um país que necessita de taxas de crescimento elevadas, como meio para reduzir o grau de pobreza, miséria e atraso, é urgente que governo e sociedade aprendam sobre políticas, técnicas e ações capazes de mitigar os efeitos dos fenômenos inibidores da produção, emprego e renda. Nessa linha, embora o Brasil tenha conseguido aliviar os efeitos negativos da tragédia sofrida pelo estado do Rio Grande do Sul em face do excesso de chuvas, os governos e as autoridades públicas estão devendo a melhoria das políticas e das técnicas de enfrentamento de tais fenômenos.
A previsão de crescimento de PIB para 2024 estava em 2,46%, conforme o boletim Focus do Banco Central publicado em 2 de setembro, e o governo anunciou com certo otimismo que essa previsão será aumentada. Porém, para um país que depende de taxas de crescimento acima de 4% ao ano para conseguir expressiva redução da pobreza e da miséria nas próximas duas décadas, a taxa de crescimento atual é baixa. O país precisa de mais.
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