O novo secretário-geral da ONU, um sul-coreano que sucede ao africano Kofi Annan, anunciou que suas prioridades à frente da organização de nações serão a normalização no Líbano e, principalmente, a estabilização do Iraque. Ban Ki Mon deixa para trás o arrastado conflito palestino-israelense, mas já tem outra prioridade com que se ocupar: a decisiva intervenção da Etiópia na Somália, para remover o governo fundamentalista que se instalou no leste da África.

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A crise somaliana se tornou urgente, porém mais agitado ficará o Iraque se o governo títere desse país do Oriente Médio levar a cabo a decisão de executar o ex-presidente Saddam Hussein. Condenado em julgamento de legitimidade questionável, o ex-ditador iraquiano deixará um rastilho após sua execução – fato admitido pelos próprios norte-americanos devido à instabilidade na área, contrapondo facções diferentes da população.

A turbulência iraquiana supera em gravidade a questão palestino-israelense. Esta, conquanto importante sob a ótica ocidental, cede espaço na agenda internacional para outros focos de crise: no Iraque já morreram mais de 50 mil pessoas entre a população civil, o país foi destroçado após a intervenção ocidental para depor Saddam Hussein e as mortes de soldados norte-americanos em operação se aproximam de 3 mil – número superior às perdas humanas no ataque terrorista contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque em 2001.

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Além da tragédia do Iraque, a região leste africana, conhecida como "Chifre da África", se tornou outro ponto quente, após guerras de atrito numa zona de fratura entre civilizações, envolvendo a Etiópia, Eritréia e, agora, a Somália. Ao empenharem seus recursos no Afeganistão para desalojar a milícia fundamentalista Taleban e, logo após, no Iraque, os Estados Unidos ficaram de mãos atadas para apoiar o governo civil somali, que luta contra a tentativa de implantação de um governo religioso, a União das Cortes Islâmicas – tarefa assumida pela Etiópia, que enviou tropas para derrotar os fundamentalistas islâmicos.

Estes, confirmando a estreiteza de regimes primitivos, tão logo entraram na capital, Mogadiscio, cuidaram de implantar seus códigos medievais, matando a tiros populares que haviam se reunido em um cinema para assistir aos jogos da Copa Mundial de Futebol. Seis meses depois perderam o apoio popular e bateram em retirada tão logo defrontados com uma força mais bem organizada.

Em termos parecidos, o Paraguai, nosso vizinho de fronteira, pode ampliar a frente de governos de esquerda da América Latina: um ex-bispo, Fernando Lugo, lançou sua candidatura presidencial, reunindo os insatisfeitos habituais com o governo. Lugo tem um apelo interessante para os órfãos do guevarismo, mas causa preocupações internas e no Brasil. Uma de suas alegações – que o Tratado de Itaipu é injusto – esquece que o governo brasileiro foi quem financiou e construiu a obra binacional, partilhando suas receitas com os paraguaios.