Um passo fundamental para manter a esperança dos ucranianos diante da invasão russa foi dado nesta quarta-feira (24). Um pacote de ajuda militar no valor de 61 bilhões de dólares foi finalmente sancionado pelo presidente Joe Biden, após ser aprovado pelo Congresso americano. Com a ajuda, o país invadido receberá munições de defesa aérea, artilharia para sistemas de foguetes e veículos blindados, essenciais para conter o avanço do exército de Vladimir Putin.
A ajuda americana, discutida desde o ano passado e travada no Congresso desde então devido à teimosia dos republicanos, trará um alento precioso para a resistência ucraniana, que tem lutado bravamente numa guerra que nem deveria ter começado. O próprio presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que há meses se queixava da falta de armamentos e apelava para o bom senso dos congressistas americanos, disse que o pacote será vital para o país se defender da agressão militar russa. Biden garantiu que os primeiros suprimentos serão enviados nos próximos dias — e é preciso mesmo que os recursos sejam disponibilizados rapidamente e com vigor.
O abandono da Ucrânia ao seu algoz não pode ser sequer uma alternativa a ser pensada pelos países do Ocidente.
A situação dos ucranianos é dramática. Nas últimas semanas, os russos têm conseguido avançar continuamente sobre territórios na região de Donetsk e intensificado os ataques ao sistema elétrico do país, que já perdeu 80% de sua capacidade de geração térmica de eletricidade. Em muitas frentes, além da falta de armas, suprimentos e equipamentos bélicos, há escassez até de soldados. A defesa do pouco que resta da infraestrutura e o bloqueio das tropas russas são prioridades. O ideal seria que a ajuda americana, aliada ao pacote de ajuda da União Europeia, no valor de 50 bilhões de euros, que serão distribuídos ao longo de quatro anos, fosse suficiente para expulsar os russos e dar fim aos loucos projetos expansionistas de Putin, mas ainda é cedo para dizer qual será o impacto real da ajuda americana na guerra.
O maior problema foi a demora na aprovação dos recursos no Congresso americano. A expectativa era de que o pacote fosse aprovado no final do ano passado, garantindo que a Ucrânia pudesse receber os suprimentos já a partir de janeiro, o que certamente teria diminuído os avanços dos russos e limitado os danos à infraestrutura. Mas, assim como se vê dentro da União Europeia, o apoio à causa ucraniana nos EUA, inicialmente irrestrito, aos poucos foi enfraquecendo, ao ponto de os republicanos optarem por barrar o avanço do pacote no Congresso americano, em parte alimentados pelas bravatas do ex-presidente Donald Trump, que já disse que, se for eleito, pretende cessar a ajuda a Kiev.
Em sua mensagem de agradecimento, Zelensky falou no papel dos EUA como “farol da democracia e líder do mundo livre”, mas esse papel quase foi colocado definitivamente de lado para dar lugar às disputas partidárias entre republicanos e democratas. Foi só depois de muitas negociações e concessões que foi possível chegar, felizmente, a um acordo para a aprovação do pacote. Tanta demora beneficiou o ditador russo, que enfrentou uma Ucrânia enfraquecida nos últimos meses. Putin conta exatamente com a exaustão dos EUA e da UE para tomar a Ucrânia de vez e, depois disso, quem sabe, poderá até avançar sobre outros territórios da Europa Ocidental.
Por mais duros que tenham sido os dois primeiros anos da guerra, os esforços europeus e americanos para manter a resistência ucraniana e viabilizar uma contraofensiva não podem cessar. Há causas que, mesmo sendo extenuantes e exigindo sacrifícios, valem a pena, e a defesa da integridade ucraniana, é uma delas. O que a ditadura de Vladimir Putin fez foi um retrocesso civilizatório sem precedentes. O abandono da Ucrânia ao seu algoz não pode ser sequer uma alternativa a ser pensada pelos países do Ocidente; trata-se da luta pelo futuro com uma ordem global minimamente civilizada. Capitular seria render-se à barbárie.
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