Por trás do desestímulo de alunos, citado por boa parte dos educadores, está uma cultura que não premia nem incentiva a excelência
Todos sabem que a educação brasileira salvo raras e louváveis exceções não é modelo para ninguém. Os pífios resultados dos estudantes de todos os níveis nos principais testes internacionais de desempenho comprovam que o país ainda não aprendeu a ensinar. A percepção da baixa qualidade da escola brasileira chegou até os manifestantes que tomaram conta das ruas em junho e, com menor intensidade, em julho e, entre outras reivindicações, bradaram por mais educação. A resposta do Planalto veio na forma de uma tímida proposta de aumento dos investimentos na área, com a destinação dos royalties do pré-sal para a educação.
Investir mais em educação pode ser um bom começo. Dotar todas as escolas com as condições necessárias para receber dignamente alunos e professores é o mínimo que se espera do poder público. Da mesma maneira, investir na formação dos educadores de forma contínua e permanente é outra premissa básica para melhorar a educação. Entretanto, há outros fatores envolvidos, bem menos palpáveis, mas tão importantes quanto os anteriores, e que afetam a qualidade do ensino brasileiro.
Segundo reportagem da Gazeta do Povo, publicada em junho, para 91% dos professores brasileiros de 5.º e 9.º anos da rede pública, uma das principais razões para a dificuldade de aprendizagem é o desinteresse dos próprios alunos, que não se esforçam por aprender. A maioria dos educadores também não relaciona o déficit de aprendizagem ao próprio trabalho ou às condições da escola. O levantamento foi feito com base no questionário da Prova Brasil 2011, respondido por 226,8 mil professores de todo o país, 12,8 mil deles no estado do Paraná. Mesmo sendo alvo de críticas de especialistas da área de educação, que consideram as respostas reveladoras de uma visão pessimista dos professores em relação à docência ou às capacidades dos alunos, os números não podem ser simplesmente descartados.
Se há de fato desinteresse dos estudantes em aprender, isso pode ser reflexo da verdadeira cultura de mediocridade que impera no país nas mais variadas áreas, inclusive no próprio sistema educacional brasileiro, onde a meritocracia parece ter sido deixada de lado para dar lugar a uma política de nivelamento por baixo, no qual pouco é exigido dos estudantes ou ainda pior a falta de esforço e resultados pífios acabam premiados. Um dos exemplos mais recentes foi a concessão de notas máximas a redações do Enem que demonstravam domínio precário da norma culta da língua portuguesa. Na época, a explicação dada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), responsável pela correção das redações, foi de que os estudantes mesmo tendo já concluído ou estando em via de concluir o ensino médio e, na maioria das vezes, pleiteando uma vaga em uma universidade ainda estariam "em processo de letramento", e que por isso "desvios" (o MEC defende que não se deve usar o termo "erro" por não ser politicamente correto) seriam permitidos.
A posição adotada pelo MEC e refletida em praticamente todo o sistema de ensino brasileiro pode ser, no mínimo, taxada de exageradamente tolerante em relação às deficiências de aprendizagem dos estudantes. Sob uma equivocada intenção de se evitar constrangimentos de alunos, opta-se por não distinguir o certo do errado, em não apontar falhas e aceitar resultados medíocres. O mesmo raciocínio poderia se aplicar às políticas de progressão continuada, em que, por medo de melindrar o aluno, não se dá a ele a oportunidade de aprender novamente os conteúdos que não absorveu satisfatoriamente durante um ano letivo. E assim se chega ao ponto de termos universitários incapazes de compreender um texto, como revelou outra pesquisa recente, ou acadêmicos premiados com bolsas de estudo no exterior, financiadas com recursos públicos, sem que dominem o idioma no qual ouvirão seus professores.
E as consequências de tal equívoco ultrapassam em muito a vida escolar, refletindo-se na falta de excelência generalizada em todos os setores da sociedade. A excelência definida como a qualidade do que é excelente, melhor só pode ser alcançada através do aprimoramento contínuo. Poder-se-ia dizer tratar-se de um eterno esforço de autossuperação, no qual o estudante ou cientista, professor, ou qualquer outro profissional busca melhorar sua técnica ou habilidades a fim de obter o máximo resultado. Mas, se nem a escola valoriza essa busca, qual o incentivo que os jovens terão para estudar e buscar ser excelentes no que fazem?
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