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A cruzada pelo resgate da ética depende de toda a sociedade. Para tanto, estimular pela educa­ção o desenvolvimento de um processo de valorização da cida­dania é um passo significativo

Merece menção o trabalho que vem desenvolvendo o Ministério Público nas investigações para responsabilizar os envolvidos nos desmandos cometidos na Assembleia do Paraná. Com a série de reportagens dos "Diários Secretos" da Gazeta do Povo e RPCTV, foi revelado em detalhes como funcionou durante anos um bem azeitado esquema de corrupção intramuros no Legislativo estadual. Contando com o conluio de deputados, diretores e funcionários, foi possível o desvio de milhões de reais do orçamento da Casa, notadamente através da contratação de servidores fantasmas.

Em resposta aos escândalos que foram tornados públicos, o MP paranaense já pediu à Justiça o bloqueio de R$ 1,2 bilhão em bens de deputados e ex-diretores. Indisponibilidade que se justifica como uma garantia de que os recursos surrupiados possam vir a ser restituídos aos cofres públicos. Em quatro ações de improbidade administrativa, os promotores também requereram judicialmente a devolução pelos implicados de cerca de R$ 100 milhões. Pelos atos indevidos foram responsabilizados o ex-presidente Nelson Justus, o ex-primeiro secretário Alexandre Curi e os ex-diretores Abib Miguel, José Ary Nassif e Cláudio Marques. Além do prosseguimento das investigações junto à AL, há expectativa em relação aos resultados dos trabalhos de investigação sobre a Câmara Municipal de Curitiba. Também na casa de leis da capital as evidências de farra com o dinheiro público são fortes, a ponto de decretar a queda do presidente João Claudio Derosso, enredado junto com outros vereadores em mal explicados contratos de divulgação com agências de publicidade.

Ainda que a palavra final seja do Judiciário, as medidas interpostas pelo Ministério Público mostram que o país dispõe de instrumentos eficazes para agir e coibir os desmandos perpetrados por maus gestores públicos. Lamentavelmente, a corrupção é um mal que se entranhou nos poderes públicos e combatê-la eficazmente vai exigir uma ampla mobilização nacional. Segundo estimativas da Federação das Indústrias de São Paulo, nos últimos dez anos foram desviados dos cofres públicos a soma de R$ 720 bilhões. Em igual período, a Controladoria Geral da União (CGU) efetuou auditorias em 15 mil contratos do governo federal com estados, municípios e ONGs, constatando irregularidades em 80% deles.

Por tudo isso, a cruzada pelo resgate da ética depende não só do Ministério Público, mas de toda a sociedade. Para tanto, estimular pela educação o desenvolvimento de um processo de valorização da cidadania é um passo significativo.

Nesse particular, mais uma vez o MP deu parcela importante de contribuição. Exemplo está na campanha nacional "O que você tem a ver com a corrupção" lançada pela instituição em 2004, com o objetivo precípuo de combater a impunidade através da educação e da conscientização dos cidadãos brasileiros. Os meios elencados para tornar possível alcançar esta meta podem até ser considerados óbvios, mas com frequência acabam sendo deixados de lado. Alguns deles: o incentivo à honestidade e à transparência nas atitudes dos cidadãos; o preparo da criança e do adolescente para o exercício da cidadania; o estímulo ao desenvolvimento e à construção de valores éticos e culturais e o resgate do sentido da cidadania para a valorização dos direitos civis e políticos.

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