O Brasil inteiro conhece muito bem o ex-presidente Lula. Sobretudo, conhece e incorporou ao folclore nacional as inesgotáveis pérolas que ele costuma produzir em seus copiosos discursos. A mais recente delas veio na segunda-feira, em recente manifestação política no Rio de Janeiro: a candidata adversária Marina Silva (PSB) deveria "proibir seus economistas de falar, porque cada um fala mais bobagem que o outro". Lula participava de um "abraço" à sede da Petrobras, um ato de solidariedade aos seus trabalhadores e de repúdio aos que, supostamente, se mostram contrários à exploração do pré-sal postura que, segundo o PT, incluiria Marina por ela não fazer referência, em seu programa de governo, a políticas destinadas a desenvolver o filão submarino riquíssimo em óleo, teoricamente capaz de levar o país ao restrito grupo dos maiores produtores mundiais de petróleo.
Não foram especificadas, no discurso de Lula, as "bobagens" de autoria dos assessores econômicos de Marina Silva, daí a dificuldade de uma análise mais profunda a respeito da afirmação do ex-presidente. O que se sabe, sim, é que os economistas costumam fazer críticas ao modelo econômico adotado pelo atual governo. No domingo, o jornal O Globo publicou entrevista de Alexandre Rands, coordenador econômico do programa de Marina, em que ele ataca a maneira como Dilma trata os empresários. Eduardo Giannetti, outro economista que assessora a candidata do PSB, vem criticando o abandono do tripé macroeconômico que garantiu a estabilidade do país conquistada no Plano Real.
Não é impossível que, de fato, os economistas que assessoram Marina falem bobagens eventualmente, assim como bobagens saem cotidianamente de inúmeras bocas que verbalizam posições de diferentes segmentos de opinião e de partidos políticos. Mas é bem provável que Lula esteja apenas se referindo às críticas feitas por Rands e Giannetti. Críticas, aliás, que não são exclusividade deles, como mostramos em editorial no domingo passado.
Justiça seja feita: o ex-presidente não disse, como alguns mais afoitos chegaram a insinuar, que os economistas deviam ser formalmente censurados. Mas a disposição de, diante das críticas, mandar calar em vez de ouvir e debater não é nova no discurso de Lula (basta lembrar sua reação no caso dos economistas que prepararam um relatório para clientes do banco Santander), refletindo o autoritarismo retrógrado de alguns de seus colaboradores como o ex-ministro Franklin Martins e o presidente do PT, Rui Falcão que, diante de manifestações de pensamento diferentes das suas, pregam a censura. Defendem, por exemplo, o tal "controle social da mídia", eufemismo que utilizam para garrotear a liberdade de imprensa e de expressão no país.
Estamos vivendo os dias finais de um período importante para o futuro do Brasil. Dentro de duas semanas, mais de 100 milhões de brasileiros irão às urnas para decidir quem será o próximo presidente da República. Mas, à exceção do heroico esforço da imprensa para desvendar o que os candidatos realmente pensam, os eleitores têm poucas oportunidades de, mediante debate mais profundo das ideias e propostas de cada um, saber qual deles defende menos bobagens que os demais. Na verdade, o que mais temos visto nesta campanha presidencial é justamente a pobreza de debate de ideias e proposições sensatas, equilibradas e centradas no desenvolvimento social e econômico do país, prevalecendo os ataques pessoais, exagerando-se na exploração publicitária do medo e da insegurança. E, quando emerge qualquer tentativa de discutir seriamente o modelo econômico escolhido pelo atual governo, Lula quer cortar o debate no nascedouro. Isso, sim, é bobagem.
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