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Editorial

Década perdida

O Brasil iniciou o ano de 2011, o primeiro da segunda década do terceiro milênio, com renda por habitante na faixa dos US$ 11 mil/ano, equivalente a um quinto da renda da população dos Estados Unidos. Para alcançar bom padrão médio de bem-estar e superar a pobreza, é necessário pelo menos US$ 25 mil/ano, meta que o Brasil poderia atingir até 2030 se o Produto Interno Bruto (PIB) crescesse 5% ao ano em média, desempenho que, em 2011, parecia ser possível.

A consolidação das reformas iniciadas com o Plano Real em 1994, que conseguiu debelar a hiperinflação crônica, seria a teia estrutural que daria ao Brasil a possibilidade de chegar a 2030 com a renda per capita de US$ 25 mil/ano. A boa situação internacional de 2002 a 2010 parecia ser o elo que faltava para a economia brasileira trilhar a estrada do progresso continuamente, mas dois eventos no início da segunda década tiraram o país do rumo e puxaram a economia para trás de forma grave: a eleição de Dilma Rousseff e a piora da situação mundial.

O Brasil tem um histórico de perder janelas de oportunidade, e acaba de perder mais uma chance de ouro

A demanda externa pelos produtos brasileiros caiu em razão da crise internacional, os preços das exportações despencaram, as contas externas pioraram, acabou a fase em que os dólares entravam em profusão, e o balanço do Brasil com o resto do mundo piorou sensivelmente. Do lado interno, a presidente Dilma abandonou a política econômica que vinha desde Fernando Henrique Cardoso – assentada no tripé: superávit primário, meta de inflação e câmbio flutuante – e inventou a tal “nova matriz econômica”, que se revelou um desastre na economia.

A nova matriz de Dilma significou abandono da austeridade nas contas públicas, baixa da taxa de juros na marra sem as condições fiscais para tanto, desleixo no controle da inflação, além de outras medidas desastrosas como o represamento dos preços da energia, dos transportes e dos derivados do petróleo, as mudanças nas regras das concessões e as isenções fiscais seletivas a setores privilegiados. Aliado a isso, veio a destruição financeira da Petrobras, o rombo no setor elétrico e o desmoronamento da credibilidade do PT e seus políticos na esteira da corrupção descoberta no âmbito da operação Lava Jato.

O resumo dessa trajetória está expresso em uma variável negativa dramática: mesmo que o produto nacional volte a crescer em 2018, a população brasileira caminha para chegar a 2020 com uma renda por habitante em torno de 5% menor do que era em 2010. Há quem aposte que, mesmo com a recuperação do crescimento, o aumento da população pode levar o Brasil a chegar em 2030 com renda per capita de apenas US$ 15 mil/ano, portanto, muito longe dos US$ 25 mil esperados para colocar o país no grupo das nações com bom padrão de bem-estar social e sem a pobreza nos moldes brasileiros.

O Brasil tem um histórico de perder várias janelas de oportunidade, e acaba de perder mais uma chance de ouro, pois o período de bonança internacional foi bastante longo (durou de 2002 a 2010, portanto, quase a primeira década toda). Essa oportunidade perdida é ainda mais lamentável por ter ocorrido quando o país havia vencido o fantasma da inflação e feito algumas reformas importantes – a exemplo da privatização dos bancos estaduais, a reforma do sistema financeiro e a Lei de Responsabilidade Fiscal, no governo Fernando Henrique –, como também havia começado e mitigar a pobreza extrema com os programas sociais de Lula. Ver o país piorar em uma década é mais uma notícia ruim. Lamentavelmente, os erros dos governos do PT fazem as notícias boas na economia andarem escassas.

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