O Brasil dá hoje uma nova demonstração da vitalidade de sua democracia levando às urnas 120 milhões de eleitores. Pela quinta vez consecutiva desde o fim do regime autoritário implantado em 1964, elegem-se pela vontade livre e soberana da população um presidente da República, governadores de estado e novos representantes no Congresso e casas legislativas estaduais. Completa-se esse espetáculo cívico com um invejável sistema eletrônico de votação e apuração, capaz de revelar ao país, em poucas horas, o quadro político que governará o país-continente pelos próximos quatro anos.

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Trata-se, sem dúvida, de um fenômeno socio-político que, aliado à tecnologia colocada a seu serviço, serve para consolidar nossa maturidade política, felizmente alcançada após os inumeráveis retrocessos institucionais que marcaram a história republicana desde a sua proclamação. Neste sentido, pois, o Brasil afirma-se como uma nação a ser respeitada pelo mundo – autora que é de um dos mais belos, sólidos, seguros e pacíficos processos de restauração da ordem política democrática de que se tem notícia.

Este período glorioso que estamos vivendo do ponto de vista do exercício de escolha direta e livre dos nossos dirigentes políticos ainda está longe, no entanto, de refletir-se em tantos outros quesitos indispensáveis para nos considerarmos efetivamente uma nação democrática em seu mais alto e profundo sentido. A tarefa não está terminada. Nossa democracia avançou no plano político, mas padece ainda de graves distorções nos planos ético e social.

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No plano ético, observa-se decadência avassaladora, como tornam visíveis os escândalos em cascata que submergem em mar de lama os mais altos escalões do estrato dirigente e, pela força do exemplo e da inércia movida pelo combustível da generalizada impunidade, se infiltra perigosamente no tecido social. Nunca se viu antes um processo de deliqüescência moral do tamanho e da gravidade a que ora assistimos no país.

Por outro lado, no plano social, é igualmente visível o fracasso de nossa democracia – até agora incapaz de abrir oportunidades iguais para vastos contingentes da população. Enquanto a alguns sobra até mesmo o supérfluo, para milhões ainda falta o essencial para garantir o mínimo para uma sobrevivência digna. Milhões estão ainda presos à miséria e à fome, desprovidos de condições de acesso à educação, à saúde, à moradia, à segurança e, sobretudo, ao emprego. Nossa democracia parou no campo político, mas está ainda longe de instituir-se também na área social.

É sob estas duas perspectivas – da ética e do social – que o eleitor deve se dirigir às urnas hoje – consciente de que é também sua a responsabilidade de escolher dentre aqueles que disputam seu voto os mais comprometidos com o respeito à causa pública em ambos os sentidos. Não se trata de tarefa fácil, reconhecemos, separar o joio do trigo – mas, seguramente, não é aconselhável misturar os dois mediante a alienação do voto nulo ou em branco.

Dos que forem escolhidos hoje pela vontade popular, exigem-se o respeito e o compromisso com a tarefa de construir o ambiente de higidez moral e de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa. Queira Deus que das eleições deste 1.º de outubro finalmente comece a emergir um novo Brasil. Que nossos mandatários – eleitos ou reeleitos – cumpram a vontade popular e dela estejam à altura.