Sempre que o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresce ou decresce, as variações na produção dos setores que compõem a estrutura produtiva são mostradas em primeiro lugar pela variação de sua expressão monetária. Num primeiro momento, a expressão monetária do PIB setorial, como também no PIB geral nacional, resulta da multiplicação das quantidades produzidas pelo nível de preços. A variação nominal pode decorrer apenas do movimento de preços, ou seja, pela inflação (quando os preços variam para cima) ou deflação (quando os preços variam para baixo). Também pode ocorrer um fenômeno curioso: o PIB monetário pode crescer num dado período em que o nível de emprego se reduz, e essa situação é explicada pela ocorrência simultânea de aumento dos preços dos bens e serviços combinado com queda nas quantidades produzidas.
A variação do PIB para cima ou para baixo por si só não explica com precisão o comportamento daquilo que mais interessa à sociedade: o crescimento do PIB pelo aumento das quantidades produzidas, que é a variável capaz de gerar empregos e aumento da renda. A comparação entre a variação do PIB real de um período com o PIB real de períodos anteriores exige que os dados sejam cotejados segundo os mesmos preços, ou seja, é necessário aplicar um deflator que exclua a inflação no período e permita comparar variação do PIB a preços iguais, chamados “preços constantes”.
Diante do resultado das eleições, as incertezas continuam e a desaceleração do crescimento econômico pode se prolongar por alguns meses
Essa questão técnica, ainda que às vezes ignorada por leigos em contabilidade econômica nacional e pela maioria da população, é necessária para avaliação do que é fundamental ao progresso material do país e à melhoria do padrão de renda e bem-estar social. Vale destacar que o verdadeiro desenvolvimento se dá pelo aumento do PIB real, a preços constantes, que é a única forma de aumentar o nível de emprego e o volume de bens e serviços à disposição da população.
Feita essa introdução, vale destacar que duas grandes variáveis macroeconômicas embutidas no desempenho do PIB são o nível de demanda pelos consumidores, de um lado, e o nível de investimentos privados feitos pelos empresários, governo e investidores, de outro lado. É nesse ponto que entram em cena os fatores psicológicos, políticos e econômicos que determinam as expectativas, as incertezas e os riscos por trás das decisões de consumo, de produção e de investimentos. Os dados sobre o desempenho do PIB no terceiro trimestre de 2022 informam crescimento de 0,4% em relação ao trimestre anterior, taxa essa que ficou abaixo das expectativas para esse período e configura desaceleração no ritmo de crescimento.
O crescimento de apenas 0,4% no terceiro trimestre resulta da média das taxas de variação dos setores que compõem o PIB, entre os quais estão a construção civil (+1,1%), os serviços (+1,1%), a formação bruta de capital fixo (+2,8%), a agropecuária (–0,9%) e a indústria de transformação (+0,8%). As variações dos diversos setores foram afetadas pelas incertezas provocadas pelo período eleitoral – pois a polarização entre os candidatos à Presidência que foram para o segundo turno dificultava as previsões sobre quem seria o vencedor – e pelo fato de Lula e Jair Bolsonaro terem propostas com diferenças revelantes em termos de modelo e de políticas econômicas, fazendo que os agentes econômicos (especialmente empresários estabelecidos, investidores nacionais, investidores estrangeiros e consumidores) diminuíssem suas atividades e suspendessem decisões de investimento e financiamento à espera do resultado da eleição. Investidores e consumidores são sensíveis a incertezas e aos riscos decorrentes – sobretudo o investidor estrangeiro, principalmente diante da dúvida sobre qual modelo econômico será adotado e quais políticas intervencionistas irão prevalecer.
Diante do resultado das eleições, as incertezas continuam e a desaceleração do crescimento econômico pode se prolongar por alguns meses, seja em decorrência de fatores reais, como problemas climáticos que afetam a produção agrícola, ou pelo desconhecimento quanto ao plano de governo e às medidas no campo da economia, já que durante a eleição nada ficou devidamente claro. Um aspecto importante está na taxa de crescimento da chamada “formação bruta de capital fixo”, que nada mais é que o conjunto de investimentos em infraestrutura e bens de capital destinados ao processo produtivo. Se o ambiente político e o ambiente institucional se mostrarem favoráveis e estimuladores da iniciativa empresarial, a expansão do capital fixo atua a favor de rápida recuperação do PIB e, por consequência, do nível de emprego, renda e impostos. Está nas mãos da classe política dirigente do país, sobretudo na Presidência da República e sua equipe, agir para que o país volte a crescer e melhorar as condições sociais. Por enquanto, as incertezas e a avaliação de riscos jogam contra o aumento dos investimentos e da atividade econômica em geral.
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