Depois de subir 1,4% no primeiro trimestre – puxado por um desempenho extraordinário do agropecuária – e 1% no segundo trimestre, o Produto Interno Bruto brasileiro teve alta de apenas 0,1% no terceiro trimestre, segundo os dados divulgados pelo IBGE na última quarta-feira. Por mais que o número tenha sido ligeiramente melhor que as estimativas do próprio governo e do mercado financeiro (este último já projetava uma retração), e por mais que as perspectivas para 2023 ainda se mantenham na casa dos 3% de crescimento, bem acima do imaginado no início do ano, o número acende um sinal de alerta, especialmente quando ele é desmembrado.
Se pelo lado da oferta houve avanço nos serviços e na indústria, com recuo da agropecuária (sempre sujeita a variações sazonais de acordo com as safras), é o lado da demanda que desperta mais motivos de preocupação. Não tanto em relação à alta no consumo das famílias, motivada por fatores como a resiliência do mercado de trabalho – pela primeira vez o país chegou à marca de 100 milhões de pessoas ocupadas no trimestre móvel encerrado em outubro –, o ligeiro aumento no rendimento dos trabalhadores, o avanço dos programas sociais e a inflação mais baixa. Mais preocupante é o aumento no consumo do governo e, especialmente, a queda na Formação Bruta de Capital Fixo: o investimento das empresas caiu 2,5% na comparação com o trimestre anterior. A retração deixou a taxa de investimento em medíocres 16,6% do PIB, quando o ideal seria algo em torno de 25%.
Previsibilidade na política econômica e responsabilidade fiscal são as chaves para que o investimento volte a subir e, com ele, venha um crescimento sustentável, sem artificialismos
O pé no freio dos investidores se explica pelo círculo vicioso de juros altos e falta de solidez na política fiscal brasileira. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se apressou em culpar apenas o Banco Central. “Com os cortes na taxa de juros nós esperamos que esse ano nós fechemos em mais de 3% de crescimento, e esperamos um crescimento na faixa de 2,5% no ano que vem. Mas o Banco Central precisa fazer o trabalho dele”, afirmou o ministro na terça-feira, na Alemanha, onde acompanhava a comitiva do presidente Lula. Por “fazer o trabalho dele”, Haddad queria dizer baixar os juros independentemente de haver as condições para tal. Mas o trabalho do BC é outro.
O Banco Central “faz seu trabalho” quando age para proteger o valor da moeda, e a única ferramenta que tem para isso é a política monetária. No entanto, ela está sujeita a uma série de outros fatores, e um deles é a política fiscal. Um governo gastador como o petista naturalmente dificulta o afrouxamento monetário, e a incerteza generalizada quanto aos rumos da política fiscal deixa os empresários no escuro. A discussão sobre a meta de resultado primário de 2024 é um exemplo perfeito, pois Lula e outros petistas não escondem seu desprezo pelo esforço fiscal, enquanto Haddad segue tentando convencer o país de que o governo buscará o déficit zero, por mais impossível que isso pareça no momento.
Previsibilidade na política econômica e responsabilidade fiscal são as chaves para que o investimento volte a subir e, com ele, venha um crescimento sustentável, sem artificialismos. No entanto, na cartilha petista a única receita conhecida para estimular a economia é o incentivo ao consumo desenfreado e o aumento do gasto público. Tudo isso já foi tentado em um passado nada distante, e o resultado não tardou a vir. Todo o discurso recente mostra que essa lição não foi aprendida, e a proximidade das eleições municipais indica que a despesa pública deve manter sua trajetória de alta em 2024, com o interesse do PT em eleger seus candidatos e aliados. A gastança coloca um limite no ciclo de queda dos juros – goste ou não o governo, que no fim será o principal responsável caso a Selic não baixa a níveis que favoreçam a retomada dos investimentos.
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