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Distribuição de renda do país, com grandes grupos na pobreza e poucos privilegiados, tem claras origens históricas: políticas sociais como o Bolsa Família ajudam a reparar isso.
Distribuição de renda do país, com grandes grupos na pobreza e poucos privilegiados, tem claras origens históricas.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

O ano de 2021 será o primeiro da terceira década do século 21. A história reservou à humanidade encerrar a segunda década com o ano de 2020 marcado por um dos mais graves e sofridos eventos de impacto mundial, constituído pela crise sanitária, econômica, psicológica e social derivada da pandemia do coronavírus, cujos efeitos serão sentidos por muitas décadas à frente. A transmissão rápida da doença em todas as regiões do mundo de forma simultânea, o isolamento social, a parada no sistema produtivo, o aumento do desemprego, a perda de renda, o empobrecimento rápido e a angústia pela retenção de crianças, pais, mães e famílias inteiras em suas casas, tudo no curso de um único ano, são elementos de um panorama imprevisto que, por seu potencial destrutivo, obrigatoriamente levará a humanidade ao confronto com seus hábitos, vícios e erros.

É nesse contexto que o Brasil – país de dimensões continentais, com abundantes recursos naturais e formado por uma miríade de raças e imigrantes – tem o desafio histórico de, nos próximos 80 anos restantes deste século, consertar seus erros, abandonar vícios e reformar suas instituições para adentrar o século 22 sem miséria, sem pobreza e com padrão médio de bem-estar social equivalente ao das nações desenvolvidas. É o desafio de um povo, que se coloca diante das gerações do presente, para que seus descendentes possam desfrutar de boas condições materiais, suficientes para a realização dos valores mais elevados do espírito humano.

O Brasil tem o desafio histórico de, nos 80 anos restantes deste século, consertar seus erros para adentrar o século 22 sem miséria, sem pobreza e com padrão de bem-estar social equivalente ao das nações desenvolvidas

O povo brasileiro está diante de um chamamento histórico, no momento que a humanidade explode em inovações e tecnologias revolucionárias, mas também apresenta sérios problemas ambientais e conflitos humanitários, como o terrorismo e as tensões migratórias. Apesar dos problemas, em nenhum outro momento da história a humanidade contou com tantas possibilidades oferecidas pela ciência e pela tecnologia para a superação, mesmo nas regiões mais pobres do planeta, das causas do atraso e da miséria. A nação brasileira dispõe dos fatores necessários ao crescimento econômico, ao desenvolvimento social e, sobretudo, para deixar no passado o espetáculo de crianças e famílias inteiras vivendo em condições precárias, em alguns casos até mesmo sub-humanas.

É consenso mundial que o desenvolvimento e a superação do atraso exigem instituições de qualidade e padrão educacional elevado. O desafio maior é como atingir, em algumas décadas, elevado progresso das instituições e novo padrão de educação para todos. Oito décadas podem parecer uma eternidade; entretanto, esses 80 anos, em termos históricos, constituem um tempo relativamente curto quando se trata de superar precariedades estruturais, como é o mau funcionamento das instituições viciadas e o baixo nível educacional médio. Em teoria, parece possível levar a população a enfrentar com sucesso seu desafio histórico, a depender de lideranças políticas, empresariais e sociais. Disposição para grandes reformas, aceitação de sacrifícios e dedicação ao trabalho duro e longo capaz de consertar equívocos e criar as bases para o desenvolvimento econômico e social são aspectos da ação coletiva que dependem das lideranças nacionais nos vários setores da vida.

As dificuldades do Brasil começam quando se constata que os líderes das grandes instituições nacionais e os líderes políticos nos maiores postos nas três esferas federativas parecem incapazes de se elevar acima dos interesses políticos e do apego a cargos, títulos e benesses. Mesmo em instituições privadas há líderes incapazes de sacrifícios, movidos por interesses pessoais acima dos interesses coletivos, longe das atitudes próprias dos grandes homens e mulheres que foram decisivos em momentos difíceis e em crises graves. Lamentável será se o sofrimento humano e social derivado da pandemia nada acrescentar de melhor aos líderes políticos, empresariais e sociais, públicos e privados, tão logo a crise seja minorada. Quem não se aperfeiçoa após um grande sofrimento está condenado a repetir as mesmas dores e as mesmas consequências diante de novas crises, que sempre ocorrerão.

O auxílio emergencial de R$ 600 por pessoa que o governo federal pagou a 65,3 milhões de beneficiários, conforme os cadastros sociais em poder da Caixa Econômica Federal, revelou que o Brasil tem uma legião de miseráveis (13 milhões), um grande país de pobres (outros 54 milhões) e, subindo um pouco a régua que mede o padrão de vida, mais 20 milhões igualmente pobres. Portanto, se o país não voltar a crescer, em pouco anos a nação de pobres chegará facilmente aos 100 milhões de pessoas. Se usadas outras variáveis do atraso econômico – como a infraestrutura física e a social, carentes de expansão e modernização –, os desafios são enormes, e precisam ser enfrentados com pertinácia a partir do ano que vem, quando talvez a vida econômica tenha voltado ao normal, com o peso adicional de quase 20 milhões de desempregados numa população de 106 milhões em condições de trabalhar. Este é um ano de eleições municipais, uma oportunidade para melhorar o padrão dos líderes políticos.

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