O Brasil falhou e continua falhando em questões cruciais para o crescimento econômico e o desenvolvimento social
Até o século 17, a condição predominante no mundo era a pobreza e a doença. O padrão de bem-estar médio era baixo e a luta pela conquista dos meios necessários à sobrevivência alimentos, habitação, vestuário e cura das enfermidades sempre foi árdua e custosa. Há 10 mil anos, a população da Terra era estimada em menos de 50 milhões de habitantes, época em que a humanidade só conseguiu escapar da extinção pela descoberta da agricultura.
A Revolução Agrícola, tida como a primeira, permitiu a fixação do homem em determinado local e propiciou a expansão da família e das comunidades. Ali começava a surgir a cidade. A humanidade levou até 1830 para chegar a 1 bilhão de habitantes, pois até então a mortalidade era muito alta e a expectativa média de vida, muito baixa. Veio a Revolução Industrial, ocorrida há 200 anos e que permitiu à humanidade, pela primeira vez, sonhar com um novo modo de produção capaz de aumentar o bem-estar das famílias e reduzir os níveis de pobreza, doença e sofrimento.
O crescimento econômico, o desenvolvimento social e a possibilidade de o ser humano dedicar parte de seu tempo à cultura, às artes e ao lazer se tornaram possíveis na medida em que a produtividade agrícola e industrial aumentou a taxas elevadas. Mas o Brasil não aproveitou os benefícios do progresso tecnológico criado em fins do século 18 e início do século 19: não industrializou sua economia, não elevou o nível educacional médio do povo e, apesar de rico em recursos naturais, passou o século 19 como um país pobre e de precárias condições sociais.
O começo da industrialização brasileira, a partir de 1844, parecia uma nova fase de desenvolvimento econômico e as gerações da época falavam, eufóricas, em "país do futuro". Mesmo após essa época, a incorporação do progresso tecnológico e o crescimento da produção ocorreram de forma muito lenta e o Brasil chegou à virada do século, em 1900, muito distante dos países desenvolvidos. Nem mesmo os benefícios da água encanada, em termos de redução de doenças simples e redução da mortalidade infantil, foram vistos por aqui.
Entretanto, após a Segunda Guerra Mundial, já nos anos 50 do século passado, o Brasil experimentou uma fase de alto crescimento. Houve a expansão industrial, a agricultura melhorou sua produtividade e as cidades conseguiram desenvolver o comércio e os serviços, a ponto de a taxa de crescimento brasileira, entre 1950 e 1970, ser uma das maiores do mundo. Porém, na sequência, o país parou e os anos 80 foram uma década perdida. Somente em 1994 o país conseguiu livrar-se de sua maior doença, a inflação, e tudo indicava que a economia nacional ia deslanchar.
Muita coisa melhorou: a má distribuição de renda foi amenizada, a economia deu sinais de vigor e o país terminou a primeira década do século 21 com boas perspectivas de crescimento e a admiração do mundo. Surgiu a ideia dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), países emergentes que pareciam assumir a ponta das taxas de crescimento mundial. O Brasil apresentava uma vantagem nesse clube: democracia estável e funcionamento normal do Estado de Direito.
Mas o país falhou e continua falhando em questões cruciais para o crescimento econômico e o desenvolvimento social. Infraestrutura física em colapso, níveis educacionais sofríveis, alta corrupção no sistema político, violência urbana excessiva, ética social em baixa, incapacidade de crescer de forma contínua e setor público inchado e ineficiente. Além dessas péssimas características, a partir de 2011 a economia empacou e o crescimento tem sido pífio.
A agenda do futuro pode ser resumida nessas sete grandes questões e elas se constituem os desafios das novas gerações. Ou elas serão capazes de promover avanços e superar os gargalos e as falhas, ou o país do futuro não vai existir pelo menos não como uma nação desenvolvida. Se a sociedade brasileira não for capaz de superar os desafios impostos por essas sete grandes questões, o país continuará existindo com a contradição de ser rico em recursos naturais, mas pobre, violento e de baixo padrão médio de bem-estar social.