Certos temas entram na moda, são divulgados e debatidos à exaustão no âmbito governamental e nos meios privados, para logo em seguida desaparecerem da ordem do dia. Um desses temas é o já diagnosticado atraso tecnológico do setor industrial brasileiro, com sua baixa produtividade e reduzida capacidade competitiva nos mercados internacionais. A industrialização brasileira começou de fato nos anos 1930, com Getúlio Vargas; andou a passos lentos até o fim dos anos 1960; acelerou o crescimento na década de 1970; e, seguindo crescendo a taxas modestas nos períodos seguintes, começou a perder participação relativa no Produto Interno Bruto (PIB).
Inicialmente, a perda de participação relativa da indústria foi causada pelo expressivo crescimento do setor primário (agricultura, pecuária, mineral, pesca e extrativismo em geral) e pela predominância do setor terciário (comércio e serviços em geral) na composição do PIB, fenômeno que ocorreu em quase todo o mundo. Outros fatores também ajudaram a reduzir a participação relativa do setor industrial e derivam de modificações na estrutura produtiva nacional. É o caso da onda de terceirização crescente a partir dos anos 1990.
Um exemplo do fator terceirização é o caso das empresas industriais que passaram a contratar fornecedores para atividades antes executadas pela própria indústria, como ocorreu com os restaurantes para alimentar os trabalhadores da empresa. Uma fábrica que mantinha restaurante próprio para os empregados registrava os custos com essa atividade em sua contabilidade de indústria. Ao terceirizar o restaurante para empresa fornecedora especializada, esta contabiliza as receitas no setor de serviços ao qual ela pertence, de forma a aumentar sua participação no PIB nacional, enquanto reduz a participação da indústria no mesmo PIB total do país.
Por mais que cresçam as atividades do setor primário e do setor terciário, não há como existirem bens e serviços aptos ao consumo sem a indústria de transformação
A redução do porcentual da indústria no PIB não é um problema em si. Mas o atraso tecnológico e a baixa produtividade sim, são problemas graves que ajudam a diminuir o PIB industrial e prejudicam o esforço de fazer o produto total da nação crescer mais que a população a fim de ajudar o país a sair do atraso e da pobreza em duas ou três décadas. Por mais que cresçam as atividades do setor primário e do setor terciário, não há como existirem bens e serviços aptos ao consumo sem a indústria de transformação, pois em sua maioria os recursos da natureza não são consumidos em seu estado in natura, isto é, eles requerem transformação e processamento que somente a indústria pode fazer.
A transformação é um processo produtivo que altera a substância de algo que, como definido pelo filósofo Aristóteles, é composta de matéria e forma. A sofisticação da vida moderna faz que até mesmo a água consumida pela população seja um produto industrial, em suas fases de captação, transporte, armazenagem, tratamento e distribuição até as residências e ambientes diversos onde estão as pessoas. A observação simples de produtos de consumo diário – como um queijo, um comprimido para dor de cabeça ou uma camisa – basta para concluir que o processo industrial está contido em quase tudo o que a humanidade usa e consome.
A baixa expansão industrial e a baixa produtividade da indústria brasileira têm causas internas das próprias empresas e causas nacionais, especialmente o chamado “custo Brasil”. Em geral, o custo Brasil era entendido como a deficiência em transportes, energia, comunicações, portos e aeroportos, ou seja, fatores ligados à logística que abarca desde a compra de matéria-prima até a venda e entrega do produto acabado ao consumidor. Porém, o conceito de custo Brasil deve ser expandido para incluir a carga tributária, a taxa de juros, o déficit educacional e a relação salário/câmbio dos trabalhadores industriais. Juntando tudo isso e comparando com indicadores internacionais, tem-se boa explicação sobre a baixa produtividade e a baixa competitividade da indústria brasileira.
É nesse contexto que voltou à moda o tema da urgente recuperação da indústria de transformação e sobre a ideia de o país aprovar e executar uma política industrial, cuja missão principal seja não remover completamente os pontos negativos no custo Brasil, mas iniciar um processo de melhorias em cada um desses pontos negativos que impedem a indústria de acelerar seu processo de modernização e crescimento. A rigor, a pergunta sobre qual é a política industrial brasileira vigente hoje no país dificilmente encontrará um conjunto de medidas e programas capazes de formarem uma política industrial.
Tal questão precisa ser respondida principalmente pelo governo federal e, complementarmente, pelos governos estaduais e municipais, lembrando que atualmente o titular do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços é o vice-presidente da República. As empresas, por sua vez, têm a responsabilidade de fazer sua parte e implantar melhorias e modernização tecnológica no interior de suas plantas industriais e processos produtivos.
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