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Datam de pelo menos duas décadas os últimos grandes investimentos do Paraná para modernizar sua infraestrutura. Nos anos 70, graças às condições básicas deixadas pelo curto governo do professor Parigot de Souza, especialmente no que diz respeito ao sistema de planejamento, foi possível ao seu sucessor, Jayme Canet Neto, pavimentar nada menos de 4 mil quilômetros de estradas, ligando por asfalto a quase totalidade dos 288 municípios então existentes. Anos depois, já no final dos anos 80, o governo Alvaro Dias entregou outros 3 mil quilômetros de rodovias asfaltadas. No anos 90, na primeira gestão de Roberto Requião, construíram-se 260 quilômetros de ferrovia na Região Centro-Oeste.

São desse tempo, também, enormes investimentos em usinas hidrelétricas, que colocaram o Paraná na posição de principal fornecedor de energia do país. Mais tarde, embora aos olhos de muitos a citação desse fato soe como uma rematada heresia, o governo de Jaime Lerner concedeu à iniciativa privada 2.500 quilômetros de trechos rodoviários (a maior parte federais), o que possibilitou modernizar e deixar transitáveis as principais vias de escoamento da produção paranaense, fato reconhecido até mesmo pelos opositores do pedagiamento implantado.

Coloque-se esses eventos no contexto histórico e se constatará que, não fossem tais providências, a economia do Paraná estaria fadada a mais completa estagnação. Foi graças ao que se fez em vias de transportes e em geração de energia que se tornou possível assistir à grande transformação de sua agropecuária – antes fundada na monocultura do café e nas pequenas lavouras de subsistência – e ao início do seu processo de industrialização. Os bons resultados desses antigos investimentos são os que o estado colhe até hoje, tantos anos depois, como recordista brasileiro na produção e exportação de produtos de origem agropecuária e industrial, principalmente veículos saídos das montadoras aqui instaladas.

Hoje, para manter o ritmo de crescimento que tais investimentos propiciaram, o Paraná precisa investir ainda mais visando a superar gargalos que surgiram e cresceram na mesma proporção da nova dinâmica da sua economia. Além de duplicações de vários trechos de rodovias e da expansão e modernização de ferrovias, o mais evidente e estrepitoso gargalo de que sofre o estado é, sem dúvida, o Porto de Paranaguá.

Até pouco tempo principal escoadouro nacional da produção agrícola graneleira, nosso terminal acaba de perder esta condição para o Porto de Santos. E no vácuo deixado pela falta de investimentos para ampliação, modernização e melhoria das condições de navegação de Paranaguá, o vizinho estado de Santa Catarina construiu outros e dinamizou seus antigos portos. Para Santos e Santa Catarina se desvia grande parte da produção paranaense, que deixa de lado seu escoadouro natural para buscar a eficiência dos concorrentes.

Seriam tais problemas desconhecidos dos governos estaduais que se sucederam nesse período? A resposta é taxativamente sim, que confirma o descaso que impera há tempo e que ganhou dimensões de escândalo nacional quando, por falta de dragagem, por exemplo, nosso Porto chegou a sofrer interdição à navegação determinada pela Marinha brasileira.

Recursos já alocados pelo governo federal para a expansão do cais foram perdidos e obras essenciais prometidas não saíram do terreno das boas intenções. Apesar disso, jactam-se as administrações portuárias, o Porto de Paranaguá continua batendo seus próprios recordes de embarques, ignorando que o melhor desempenho se deve muito mais ao crescimento da produção agropecuária e das exportações de industrializados – algo que tem muito mais a ver com o fruto do trabalho do agricultor e das indústrias e com as demandas internacionais do que em razão de melhorias sensíveis no Porto.

Sofre o Porto de Paranaguá do mesmo mal que assola a administração pública brasileira como um todo. Privilegia-se a acomodação dos interesses políticos paroquiais e se olvida da competência técnica e administrativa, como bem demonstraram os últimos acontecimentos que envolveram, entre outras distorções, até mesmo a "venda" de cargos comissionados na estrutura portuária para favorecer apaniguados.

O Paraná, a sua gente que trabalha para produzir, que garante o emprego de milhões, que sustenta a maior parte da arrecadação tributária, que contribui pesadamente para a obtenção de divisas, não merece continuar assistindo ao espetáculo de descaso com que seus portos são tratados. Subsiste agora uma única esperança imediata, representada pela recente mudança da direção decorrente da revelação dos malfeitos que lá se praticavam à luz do dia. Dê-se o devido tempo, mas que permaneça a expectativa e a vigilância.

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