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O anúncio da descoberta de uma enorme jazida de petróleo e gás no campo de Tupi, na Bacia de Santos, pode situar o Brasil entre os dez maiores produtores mundiais de combustíveis. Embora a produção deva demorar pelo menos seis anos, há razões para otimismo: o óleo achado é leve, de qualidade superior aos de outras reservas nacionais, o bloco sozinho responderá por mais de 50% no nível atual das reservas brasileiras e tudo parece indicar que há, na costa brasileira, mais reservas semelhantes àquela cuja descoberta foi confirmada esta semana. Além disso, a nova jazida deixa a Petrobrás em quinto lugar entre as empresas de capital aberto mais valiosas de toda a América – e em primeiro considerando-se apenas a América Latina. A reação do governo ao anúncio oficial das riquezas da reserva dão a medida de sua importância para o país.

O governo decidiu excluir 41 dos 312 blocos relativos ao lençol de petróleo e gás da 9.ª Rodada de Licitações de Áreas Exploratórias que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) realizará no fim do mês. Para justificar a medida, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, chegou a invocar a "soberania nacional". Apesar das críticas que a decisão possa suscitar, o governo agiu com a cautela necessária diante de uma descoberta que põe o Brasil no mesmo patamar dos países árabes, da Nigéria e da Venezuela e que reforça nossa posição negociadora no sensível mercado de energia fóssil.

Essa nova condição é oportuna num momento em que o governo retoma negociações com a Bolívia para ampliar a oferta de gás natural, dispondo-se a fazer investimentos para elevar os fornecimentos contratados naquele país. A preocupação de Brasília é evitar o "apagão" energético que deu seus primeiros sinais nos últimos dias, quando faltou o produto em fábricas e postos de combustíveis do Rio e São Paulo.

Mas, ainda que tenha mais cartas na manga para negociar com Evo Morales, o Brasil também está sob certa pressão: é preciso investir nos campos bolivianos, e, para isso, negociar melhor com o governo local. Só assim será possível atender aos consumidores brasileiros que, incentivados pelo governo, aderiram ao uso do gás natural. A falta do produto não é um problema menor, ao contrário do que argumentou o presidente Lula no início da semana. Indústrias e donos de veículos movidos a GNV esperam mais empenho na condução das negociações do Brasil com os fornecedores bolivianos. Atravessamos um período sensível quanto ao fornecimento de gás, de eletricidade e de outros insumos necessários para movimentar a máquina da economia e o consumo doméstico. Em termos de energia, o Brasil tem operado no limite, o que pode ser confirmado pelas constantes elevações nos preços.

A confirmação da descoberta do campo de Tupi, portanto, chega em um momento crucial para um país que pretende fazer seu Produto Interno Bruto (PIB) crescer além do patamar de 4% ao ano, como está previsto. Que não seja a falta de energia a razão a impedir o salto econômico. Para isso, o país tem, agora, o desafio de converter a abundância dos recursos naturais em seu benefício.

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