O paradoxo do emprego no Brasil da pandemia continua vigorando, a julgar pelos dados divulgados na quarta e na sexta-feira, respectivamente pelo Ministério da Economia e pelo IBGE. Enquanto o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostra que em março foram abertas 184 mil vagas de emprego formal, com um saldo positivo de 837 mil postos nos três primeiros meses de 2021, o desemprego no trimestre encerrado em fevereiro subiu para 14,4%, com 14,4 milhões de brasileiros à procura de trabalho.
As diferenças de metodologia podem ajudar a entender as discrepâncias, mas apenas até certo ponto. É preciso olhar os números com mais atenção para perceber algumas tendências e poder enxergar o quadro completo de uma economia que ainda patina, na esteira de medidas restritivas contra a pandemia que afetam os negócios e funcionam como uma gangorra, ora sendo intensificadas, ora sendo relaxadas, muitas vezes sem planejamento ou critérios mais precisos da parte de governos estaduais e municipais. Um exemplo é o crescimento observado pelo IBGE no número de pessoas trabalhando por conta própria, os chamados “empreendedores por necessidade” – a única categoria em que a Pnad Contínua registrou aumento na comparação com o trimestre anterior (de setembro a novembro de 2020).
A economia e o emprego não voltarão a crescer enquanto o coronavírus continuar assolando o país, cobrando um alto preço em vidas e em dinamismo dos negócios
Com muitos especialistas apontando que o real quadro do emprego no Brasil deve estar em um meio termo entre o Caged e a Pnad Contínua, o fato é que o mercado de trabalho segue altamente pressionado. Por isso é extremamente bem-vinda a reedição do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), o programa que permite acordos de redução de jornada e salário, ou suspensão temporária do contrato de trabalho, com o pagamento de uma compensação por parte do governo federal. O Ministério da Economia tem ressaltado constantemente a importância do programa, que no ano passado contemplou 10 milhões de trabalhadores, e neste ano deve ajudar a preservar os postos de trabalho de 4 milhões de pessoas, com as mesmas regras adotadas em 2020.
O BEm, no entanto, assim como outros programas de auxílio às empresas, caso do Pronampe, e do adiamento de obrigações como o recolhimento do FGTS, são paliativos. A economia e o emprego não voltarão a crescer enquanto o coronavírus continuar assolando o país, cobrando um alto preço em vidas e em dinamismo dos negócios. E a pandemia só retrocederá com o avanço da vacinação em grande escala, como sempre faz questão de afirmar o ministro Paulo Guedes. Infelizmente, todas as estimativas iniciais de produção e aplicação das doses importadas ou produzidas localmente estão sendo revistas para baixo, e a autossuficiência na produção da matéria-prima também está mais distante. O governo brasileiro lançou recentemente um apelo internacional para que o país receba ao menos parte das doses que estão sobrando em países ricos, mas o Brasil não é a única nação a passar por este tipo de problema.
Cuidar dos doentes e reforçar os cuidados para evitar novos surtos, preservar negócios e empregos, e acelerar a vacinação são as prioridades máximas que deveriam unir todos os poderes e esferas de governo neste momento. E mesmo assim é possível que o emprego ainda seja a última variável econômica a se reerguer, como é costumeiro em outras crises – o Brasil ainda lutava para recuperar todos os postos de trabalho perdidos com a recessão de 2015-2016 quando foi atingido pela pandemia. Por isso, além das urgências, é preciso desde já trabalhar também em reformas que facilitem a contratação e dinamizem o mercado de trabalho, permitindo que mais brasileiros encontrem emprego rapidamente assim que a Covid-19 deixar de ser uma preocupação. Do contrário, infelizmente – e apesar dos números do Caged – o mercado de trabalho ainda terá muitos meses difíceis pela frente.
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