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Editorial

Desemprego em alta

Mulheres estão entre os grupos mais prejudicados pelo desemprego causado pela pandemia de Covid-19. (Foto: Daniel Nebreda/Pixabay)

Os dados do mercado de trabalho tiveram mais um mês de direções opostas, de acordo com os números divulgados pelo Ministério da Economia e pelo IBGE. Enquanto o Novo Caged registrou a abertura de 121 mil postos de trabalho com carteira assinada em abril, chegando a um saldo positivo de quase 1 milhão de vagas em 2021, o índice de desemprego medido pela Pnad Contínua subiu para 14,7% no trimestre móvel encerrado em março, com um número recorde de 14,8 milhões de brasileiros à procura de um emprego.

Analistas do IBGE lembraram que, tradicionalmente, o primeiro trimestre de cada ano é “um período de aumento da desocupação”, e que por isso os resultados observados nos últimos três meses, embora tenham sido intensificados pela pandemia, não chegam exatamente a destoar dos primeiros trimestres de anos anteriores. Esta constatação, por certo, não serve de consolo diante dos números da Pnad Contínua. Além dos 14,8 milhões de desempregados – 2 milhões a mais que no mesmo período do ano passado –, o país tem 6 milhões de desalentados, aqueles que nem chegaram a buscar uma colocação, outro recorde negativo. O nível de ocupação segue abaixo de 50%, ou seja, menos da metade dos brasileiros em condições de trabalhar estão ocupadas.

As consequências do desemprego exigem que todos os atores políticos se dediquem ao máximo na concretização dos fatores que viabilizarão o fim da pandemia e o consequente crescimento econômico

Ainda de acordo com o IBGE, o desemprego está castigando especialmente os jovens (31% na faixa de 18 a 24 anos) e as mulheres (17,9% contra 12,2% dos homens). Já no segundo semestre do ano passado o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) havia verificado um duplo efeito da pandemia sobre o nível de emprego das mulheres: setores com forte participação feminina estão entre os mais afetados pelas restrições aos negócios, como serviços, eventos e alimentação; além disso, o prolongado fechamento de creches e escolas (que, em vários locais, ainda persiste) também tirou muitas mulheres do mercado de trabalho, já que a tendência é de que, em situações como estas, sejam elas a permanecer em casa cuidando das crianças.

Para se reverter a trajetória negativa apontada pelos dados do IBGE, ou intensificar a trajetória positiva apresentada pelos dados do Novo Caged, é imprescindível a reabertura dos negócios sem novos solavancos, mas é improvável que isso ocorra enquanto tantas cidades e estados continuarem observando aumento nos números de casos de Covid-19, levando prefeitos e governadores a manter o abre-e-fecha característico dos últimos meses. Enquanto isso, para não se deteriorar ainda mais, o mercado de trabalho continuará dependendo das ações paliativas, como o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), com acordos de redução de jornada e salário, ou suspensão do contrato de trabalho; e o Pronampe, de apoio a micro e pequenas empresas, tornado permanente pelo Congresso Nacional e que aguarda a sanção presidencial.

O emprego, como já se sabe há tempos, é a última variável a reagir em épocas de retomada econômica. Apesar de todo o otimismo quanto ao desempenho do PIB brasileiro em 2021, com vários bancos já prevendo crescimento na casa dos 4% e até dos 5%, algumas condições ainda são necessárias para que tal avanço se concretize – condições que incluem a realização de reformas estruturantes, o fim das irresponsabilidades orçamentárias e a vacinação em massa da população até se chegar à proporção que garantirá o fim da circulação do coronavírus. As consequências do desemprego exigem que todos os atores políticos se dediquem ao máximo na concretização dos fatores que viabilizarão o fim da pandemia e o consequente crescimento econômico, com geração de emprego e renda.

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