Depois de passar boa parte do ano apontando para direções opostas, os dois principais indicadores do mercado de trabalho no país, anunciados no fim deste mês de setembro, começam a convergir para mostrar uma ligeira melhora, embora ainda permaneçam muitos desafios pela frente. O Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério da Economia, divulgado na quarta-feira, mostrou a abertura de 372 mil vagas de emprego formal em agosto – este indicador, no entanto, já vinha em campo positivo desde o início do ano, com todos os meses de 2021 registrando mais contratações que demissões. É o índice de desemprego, medido pelo IBGE por meio da Pnad Contínua, que baixou dos 14% pela primeira vez no ano, ficando em 13,7% no trimestre móvel encerrado em julho.
Este é o terceiro mês seguido de redução no desemprego pelos critérios do IBGE. Depois de ter chegado ao recorde de 14,7% nos trimestres móveis encerrados em março e abril, baixou para 14,6% e 14,1%, até chegar aos 13,7% anunciados nesta quarta-feira. Já o número absoluto de brasileiros à procura de um emprego caiu pelo segundo mês seguido: era de 14,795 milhões no trimestre móvel encerrado em maio, baixou para 14,444 milhões e, agora, para 14,085 milhões no trimestre formado por maio, junho e julho – a última vez em que o IBGE contou menos de 13 milhões de desempregados foi no fim do ano passado.
O momento da verdade para o mercado de trabalho brasileiro se iniciou em setembro, o primeiro mês sem o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm)
A palavra certa não é bem “comemoração”, pois ainda temos dezenas de milhões de brasileiros que poderiam estar trabalhando, mas não têm emprego; mas há motivos para falar em “esperança” ao olhar mais alguns indicadores da Pnad Contínua relativos ao período de maio a julho, embora seja sempre necessário observar todas as nuances para não pintar um quadro nem otimista, nem pessimista demais. Pela primeira vez desde o início da pandemia, o nível de ocupação passou dos 50%, ainda que o aumento recente tenha sido puxado principalmente pelo trabalho informal. O número de desalentados, pessoas que nem chegam a buscar emprego, caiu 10% em maio/junho/julho na comparação com o trimestre anterior. O número de trabalhadores subutilizados também está em queda, mas dentro deste grupo houve uma elevação entre os ditos “subocupados por insuficiência de horas trabalhadas”, pessoas que trabalham menos do que poderiam.
Assim, é possível concluir que, embora mais brasileiros estejam trabalhando, muitas das vagas estão na informalidade, ou têm jornadas menores, o que tem como consequência remunerações mais baixas. Mesmo no Caged, que tem números muito mais positivos que a Pnad Contínua e retrata apenas o emprego formal, o salário médio de admissão em agosto foi 1,42% menor que o das vagas abertas em julho. Ninguém haverá de questionar que um emprego, ainda que em meio período e com remuneração longe do ideal, será melhor que emprego nenhum, mas ao mesmo tempo ninguém pode se dar por satisfeito com isso: o desafio para o Brasil está em não apenas aproveitar a força de trabalho parada, mas em fazê-lo oferecendo vagas de mais qualidade.
O momento da verdade para o mercado de trabalho brasileiro se iniciou neste mês de setembro, o primeiro sem que o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) esteja em vigor. Uma das melhores iniciativas do governo federal para combater os efeitos econômicos da pandemia, ao permitir acordos de suspensão temporária do contrato ou redução de salário e jornada, ele expirou em 25 de agosto, quando acabou o prazo de 120 dias determinado pela Medida Provisória 1.045 para a duração do programa. Aquela MP, que acabou ficando conhecida por “minirreforma trabalhista” depois dos acréscimos feitos na Câmara, foi rejeitada pelo Senado em 1.º de setembro, mas àquela altura empregadores e empregados já não podiam mais assinar novos acordos. À medida que os acordos feitos em meses passados forem expirando, bem como a estabilidade garantida pela lei aos empregados cobertos pelo BEm, será possível avaliar se a economia está robusta o suficiente para que esses empregos sejam mantidos sem a necessidade do apoio governamental.
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