Uma marca simbólica importante no combate a uma das piores mazelas socioeconômicas que podem acometer um país foi atingida neste mês de maio, segundo o IBGE: pela primeira vez desde 2016 – quando o Brasil vivia a recessão causada pela “nova matriz econômica” lulopetista –, a taxa de desemprego brasileira está em um dígito. Segundo os dados da Pnad divulgados nesta quinta-feira, dia 30, o desemprego no trimestre móvel encerrado em maio foi de 9,8%, contra os 10,5% do período entre fevereiro e abril. Na quinta-feira, dia 29, o Ministério da Economia já havia divulgado outro indicador do mercado de trabalho: o Cadastro Nacional de Empregados e Desempregados (Caged) havia registrado a criação de 277 mil empregos com carteira assinada em maio, levando o acumulado de 2022 a superar a marca de 1 milhão.
O número de brasileiros ocupados – conceito que inclui empregados com carteira assinada, autônomos, informais, servidores públicos, domésticos e empregadores –, segundo a Pnad, bateu um recorde: são 97,5 milhões de trabalhadores, o maior número da série histórica iniciada em 2012. O desempenho inédito, no entanto, é puxado pelos informais, que são 39,1 milhões, também o maior número dos últimos dez anos; os trabalhadores com carteira assinada, de acordo com o IBGE, são 35,6 milhões, ainda abaixo dos 37,5 milhões registrados em 2014.
Que o mercado de trabalho siga melhorando apesar do longo ciclo de aperto monetário promovido pelo Banco Central para conter a inflação, e que naturalmente inibe o crescimento econômico com o aumento dos juros, é algo a ser celebrado
Mais que o número em si, é importante ressaltar a volta da tendência de queda no desemprego, depois de um começo de ano em que a taxa de desocupação parecia ter estacionado na casa dos 11%, e compreender os muitos desafios que há pela frente, pois o Brasil ainda tem mais de 10 milhões de pessoas em busca de um trabalho. Por mais que o Caged de maio mostre saldo positivo no mercado formal em todos os estados e no Distrito Federal, o desemprego ainda está distribuído de forma muito desigual pelo país. De acordo com os últimos dados relativos aos estados divulgados pelo IBGE, referentes ao trimestre móvel encerrado em março (quando a taxa nacional era de 11,1%), Bahia e Pernambuco tinham índices na casa dos 17%, enquanto Santa Catarina (4,5%) e Mato Grosso (5,3%) já estavam no intervalo que economistas consideram como sendo o do “pleno emprego”.
Outro indicador que merece um olhar cuidadoso é a remuneração média, que não reage no mesmo ritmo dos indicadores de emprego. Tanto o Caged quanto a Pnad mostram queda nos salários médios ao longo dos últimos 12 meses. Há uma série de explicações, que vão da inflação alta ao perfil das novas vagas que estão aparecendo, além de a situação atual do mercado de trabalho ainda ser pouco favorável aos empregados na hora das negociações salariais. Este é um cenário que provavelmente só será revertido caso a economia cresça com mais força e o desemprego siga em queda.
Que o mercado de trabalho siga melhorando apesar do longo ciclo de aperto monetário promovido pelo Banco Central para conter a inflação, e que naturalmente inibe o crescimento econômico com o aumento dos juros, é algo a ser celebrado, sem perder de vista o que pode ocorrer no futuro próximo. O desemprego voltou a ser de um dígito, mas a soma dos índices de desemprego e inflação continua muito acima de 12, limite máximo que o economista Arthur Okun considerou aceitável quando estabeleceu seu “índice de miséria” – quando a soma supera esse patamar, indica alguma disfuncionalidade na economia. O IPCA vinha desacelerando em abril e maio, mas o IPCA-15 de junho já mostrou um leve repique, colocando em xeque as perspectivas mais otimistas e lançando mais dúvidas sobre a intensidade e a duração do aumento dos juros, o que pode trazer turbulência ao mercado de trabalho.