Cerca de 10 mil pessoas estiveram diante do Congresso Nacional para protestar nesta quarta-feira, um dia emblemático para o Legislativo. Mas a manifestação não tinha nada a ver com a pressão popular para que os deputados deixassem de manobras na calada da noite para perpetuar a impunidade na votação das Dez Medidas Contra a Corrupção, que ocorreria na Câmara dos Deputados. Seu alvo era o Senado, que promoveria a primeira votação da Proposta de Emenda Constitucional 55, a PEC do Teto, que já tinha passado pela Câmara e é uma medida necessária para conter os ímpetos gastadores do governo federal.
O ato, realizado pelos “movimentos sociais”, entidades estudantis e sindicatos tradicionalmente alinhados com o petismo, terminou em vandalismo e depredação. Pelo menos dois carros foram incendiados e outros dois foram virados – um deles, de uma equipe de reportagem; outro, pertencente à família de um integrante da polícia legislativa. Vários veículos foram pichados. Banheiros químicos e outras instalações da Esplanada dos Ministérios foram depredados para formar barricadas e tentar conter os policiais que lançaram bombas para dispersar o ato depois que o vandalismo tomou conta da manifestação. Diversos ministérios, especialmente o da Educação, também foram atacados, com vidraças destruídas e fogo ateado a sacos de lixo. Coquetéis molotov foram lançados sobre a polícia.
É inegável que a violência tem feito parte da retórica petista
Enquanto isso, do lado de dentro do Congresso, parlamentares petistas tratavam de inverter a realidade. “Esses garotos”, como descreveu o senador Lindbergh Farias, estariam sendo massacrados pela polícia, quando na verdade o que estavam fazendo era destruir o que viam pela frente. Senadores e deputados movidos pela mais pura insensatez chegaram a pedir que o Congresso abrisse suas portas para que os vândalos (ou participantes de uma “legítima manifestação popular” de quem só pedia saúde e educação, na descrição do deputado Ivan Valente, do PSol) pudessem ocupar as galerias – especialmente do Senado, onde estava sendo votada a PEC contra a qual eles protestavam.
Nada disso é novidade. Quando o PT ainda estava no Palácio do Planalto, acolher vândalos era a resposta padrão a atos de destruição no centro do poder. Foi assim, por exemplo, em março de 2014, quando 15 mil sem-terra tentaram invadir o Supremo Tribunal Federal e, depois, o próprio Planalto. Dezenas de policiais foram feridos e, como recompensa, o então ministro Gilberto Carvalho costurou um encontro entre os líderes do quebra-quebra e a presidente Dilma Rousseff. O governo chegou até mesmo a considerar diálogo com black blocs, logo depois das grandes manifestações de 2013.
Por mais que parlamentares de partidos de esquerda tenham dito, no plenário, que os vândalos de terça eram, na verdade, infiltrados de outros movimentos “de direita”, é inegável que a violência tem feito parte da retórica petista. Como esquecer de Lula convocando o “exército de Stédile”? Ou do presidente da CUT, Vágner Freitas, falando em “armas na mão” para defender Dilma e Lula? E, no começo deste ano, o mesmo Gilberto Carvalho, perguntado pela Folha de S.Paulo sobre radicalização nas ruas, disse que, se a Lava Jato chegasse a Lula, “eu temo muito por um processo que nos leve ao que acontece na Venezuela, porque você vai levar ao processo de justiçamento, de justiça com as próprias mãos, e haverá um ódio progressivo”.
Michel Temer errou feio quando falou em “instabilidade” no caso de uma prisão ou condenação de Lula. Uma admissão de fraqueza que, agora, o petismo e suas entidades-satélites tentarão explorar em toda oportunidade possível, como nesta terça-feira, usando qualquer pretexto que houver à mão, como PECs e MPs. Uma resposta firme ao vandalismo, inclusive com responsabilização e prisão dos depredadores, é a única forma de dissuadir quem pensa poder vencer pela violência e pela destruição. O que houve na Esplanada dos Ministérios não tem nada a ver com protesto democrático, e incentivar protestos semelhantes é pura irresponsabilidade.
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