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A presença constante dos cidadãos e a consciência de que o espaço público lhes pertence afugenta as atividades degradantes

O Passeio Público recebe hoje dois eventos que são mais uma etapa no projeto de devolver o parque mais antigo de Curitiba – que completa 127 anos na próxima quinta-feira – àqueles que são seus verdadeiros donos, os curitibanos. A Vinada Cultural é organizada pela Gazeta do Povo e a Regata de Pedalinhos conta com apoio do jornal por meio da campanha Ocupe o Passeio, iniciada em fevereiro. A mística do "Ocupe", nascida com os protestos em Wall Street, em muitos casos acabou desvirtuada por ideologias ultrapassadas, mas não é este o caso do parque curitibano. O que pretendemos é uma ocupação genuína – ou reocupação, para sermos justos com a época em que o Passeio realmente foi dos curitibanos.

Por mais que o parque continue a ter os seus bons e fiéis frequentadores, a imagem atual do Passeio Público entre muitos curitibanos remete muito mais ao tráfico de drogas e à prostituição observadas na região. Essa sensação está consolidada há tanto tempo que já não se sabe se foi o surgimento dessas atividades que afugentou os cidadãos do Passeio, ou se os traficantes e prostitutas apenas preencheram o vazio deixado por curitibanos que, em algum momento da história da cidade, trocaram seu parque pioneiro por outras opções de lazer. Mas agora isso é o que menos importa, pois a prioridade é retomar esse espaço tão importante para a região central da capital.

A lógica da reocupação do Passeio é simples: a presença constante dos cidadãos e a consciência de que o espaço público lhes pertence afugenta as atividades degradantes, e vice-versa. Essa dinâmica pode ser observada tanto na pequena praça de bairro quanto em regiões centrais inteiras das grandes metrópoles, e não é à toa que muitas capitais vêm incentivando o retorno das construções residenciais ao centro, após décadas em que o crescimento do comércio e dos serviços empurrou os antigos moradores para os bairros, deixando como resultado quarteirões inteiros que ficam desertos (e perigosos) à noite e aos fins de semana.

O que nos dá ainda mais esperança no caso do Passeio Público é que a iniciativa por sua recuperação partiu dos próprios curitibanos, que se organizaram, fizeram aquilo que estava ao seu alcance e pressionaram o poder público para que ele contribuísse fazendo o que os cidadãos não seriam capazes de conseguir por conta própria. Essa é uma poderosa mensagem: mostra a uma sociedade muitas vezes acostumada a esperar todas as soluções do Estado paternalista que as verdadeiras mudanças não vêm de cima para baixo, mas de baixo para cima, graças à mobilização popular e à consciência de que o espaço público é de todos.

Hoje e os próximos dias serão de festa para o Passeio Público. Que, passado o ânimo inicial, os curitibanos possam redescobrir o parque e verdadeiramente adotá-lo. Que as cenas passadas do local abandonado ao tráfico e à prostituição permaneçam na memória, mas apenas como um alerta sobre as consequências do abandono, e como uma lição para que tais situações não voltem a ocorrer.

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