Voto, palavra de apenas duas sílabas e quatro letras, mas sob cuja simplicidade e corriqueira menção nesses meses que antecederam a eleição geral deste domingo se esconde um dos mais simbólicos, importantes e concretos atos sobre os quais se alicerça a democracia, se constrói a cidadania e se manifesta a vontade popular. É hora, pois, de respeitar a dignidade tão claramente implícita no gesto que nos levará às urnas um gesto que, tal como o vocábulo voto, nos parece tão simples quanto o é o clicar de algumas teclas numéricas e apertar a de confirmar.
Confirma-se, neste nosso momento solitário e final diante da urna eletrônica, a nossa vontade do latim voluntas, raiz do termo voto. Vontade, uma faculdade humana que pressupõe racionalidade, inteligência, consciência, responsabilidade, capacidade de escolha, decisão. Será pela vontade da maioria da qual faz parte o voto único de cada um que a sociedade brasileira decidirá hoje a quem delegará poder legal para atuar em seu nome nos maiores cargos da República, do presidente aos governadores estaduais, dos senadores aos deputados federais e estaduais.
Hoje é dia, pois, de agir de modo pensado. É dia de cada eleitor desvestir-se de seus interesses particulares e de refletir sobre o que é melhor para a nação, para o estado, para a cidade. É preciso examinar o passado dos candidatos, sua competência, sua honestidade, seus compromissos sociais, sua força de vontade para enfrentar e para vencer os grandes desafios com que todos, indistintamente, nos defrontamos. Um voto consciente pode representar, portanto, uma contribuição na busca por melhores dias, pela redução das disparidades e pelo aperfeiçoamento da democracia. Pode e deve ser um voto pelo futuro melhor, pelo desenvolvimento com justiça e pela boa e correta aplicação dos recursos públicos.
A amplidão, a profundidade e a complexidade dos problemas que desafiam o Brasil exigem a eleição de pessoas competentes para atacá-los e eticamente comprometidas com o bem comum. Escolher o melhor entre os candidatos está nas mãos e na consciência de cada cidadão eleitor. O voto é uma procuração pessoal que os cidadãos concedem para que outros cidadãos exerçam, em seu nome, funções administrativas e legislativas da organização política.
A despeito dos inegáveis avanços experimentados pelo país nos últimos 16 anos, sob os governos Fernando Henrique e Lula, são ainda enormes os desafios que aguardam os eleitos deste domingo. Em nível nacional, há reformas estruturais que, embora há muito consideradas inadiáveis, não foram realizadas. As reformas previdenciária, tributária, administrativa e trabalhista são, neste sentido, as tarefas que a nação quer ver enfrentadas pelos seus novos governantes.
Está claro, pois, que política não é coisa apenas de político. Parafraseando Bismarck, para quem a guerra era assunto tão importante que não podia ser deixado nas mãos dos militares, política é algo que não deve ser deixado só com os políticos mas também com os cidadãos, cada um dos cidadãos. Todos fazemos política. E o fazemos participando dos destinos do nosso país, da terra em que vivemos. E hoje, de modo muito especial, através do voto consciente.