Na terça-feira passada, teria sido melhor que a presidente Dilma Rousseff soltasse uma daquelas frases sem começo nem meio, nem fim e nem sentido que marcam alguns de seus discursos e logo viram piada na internet. Mas, infelizmente, o que o mundo ouviu na entrevista coletiva de Dilma em Nova York, na véspera da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, foi uma frase perfeitamente articulada e nada divertida. Questionada sobre os ataques da coalizão liderada pelos Estados Unidos contra o Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, Dilma respondeu: "Eu lamento enormemente isso. O Brasil sempre vai acreditar que a melhor forma é o diálogo".

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Dilma quer "diálogo" com o Estado Islâmico. Esse mesmo Estado Islâmico que age de forma tão cruel que mesmo outros grupos terroristas, como a Al-Qaeda, fizeram questão de se distanciar dos seus métodos. O Estado Islâmico que marca as casas dos cristãos iraquianos, como o nazismo fazia com os judeus, e dá a eles a "escolha" entre converter-se, pagar um "imposto de infiéis" ou "perecer pela espada". O Estado Islâmico que, além dos cristãos, persegue, estupra, escraviza e mata membros de outras minorias, como os yazidis, e também muçulmanos xiitas ou que simplesmente sejam "moderados" demais para o gosto do EI. O Estado Islâmico que filma e divulga na internet as decapitações de norte-americanos e britânicos, tratando as mortes como um "recado" ao Ocidente (dias atrás, um grupo argelino degolou um turista francês e alegou ter agido a mando do EI). O Estado Islâmico que pede a seus seguidores que matem ateus e cidadãos dos países que integram a coalizão internacional. O Estado Islâmico que anuncia: "conquistaremos a sua Roma, despedaçaremos as cruzes e faremos escravas as suas mulheres". É com essas pessoas que Dilma quer que a comunidade internacional "dialogue".

A afirmação de Dilma é um insulto a todos os membros de grupos que vêm sendo perseguidos desde que o EI começou sua expansão pelo Iraque e pela Síria, e àqueles que vêm se esforçando em denunciar as atrocidades cometidas pelos jihadistas. É uma ofensa à inteligência de todos os que conhecem a natureza do grupo e suas intenções, dentre as quais certamente não está o diálogo. E, o que é igualmente grave, é um reconhecimento implícito do Estado Islâmico como interlocutor qualificado, como se estivesse no mesmo nível dos governos nacionais dos países afetados pelo jihadismo ou dos que se dispuseram a combatê-lo. Não deixa de ser interessante notar que a presidente que diz que "o Brasil é contra todas as agressões" não levantou um dedo quando a violência do Estado Islâmico ganhou dimensão mundial.

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É claro que dar esse status qualificado a pessoas que, nas palavras de Barack Obama, só entendem a linguagem da força não é novidade no governo Dilma. Quando os vândalos black blocs infernizaram o Brasil, depredando tudo o que viam pela frente, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, surgiu com a mesma conversa de "dialogar" com os mascarados – que, é preciso lembrar, têm nas costas a morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Band, atingido por um rojão no Rio de Janeiro. Se o governo mostra toda essa consideração com quem espalha destruição em território nacional, o que não faria com quem semeia a morte a milhares de quilômetros de distância?

Eis a diplomacia brasileira dos últimos 12 anos: afaga ditaduras como a cubana e a venezuelana, omite-se em catástrofes humanitárias como a de Darfur, no Sudão, trata terroristas assassinos com condescendência e quer chamá-los para o "diálogo". Não bastasse nossa economia – com criatividades contábeis, desempenho medíocre e previsões furadas – cair no descrédito internacional, também nossa diplomacia segue pelo mesmo caminho.

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