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Editorial 1

Didática ideológica

Com a vagareza típica dos mastodontes burocráticos, só agora o Ministério da Educação toma providências contra o atentado que vitimou cerca de 20 milhões de crianças brasileiras ao longo dos últimos sete anos. Nesse período, com a complacência do MEC, foi distribuída na rede pública de ensino de 1.º grau de todo o país, às expensas do Erário, a coleção didática Nova História Crítica, de autoria do professor Mário Schmidt – arma de grande poder bestialógico com que se cometeu um verdadeiro genocídio cultural.

Muito embora o MEC só agora, após denúncias publicadas pela imprensa, tenha excluído a coleção da lista de distribuição do Programa Nacional do Livro Didático, o mal já se tornou de difícil reparação, pois que os alunos de 8.ª série "aprenderam", por exemplo, que o famoso óleo de Pedro Américo, que retrata o Grito da Independência, mais se parece com "um anúncio de desodorante, com aqueles sujeitos levantando a espada para mostrar o sovaco". Ou que o imperador Pedro 2.º é um "velho, esclerosado e babão". E ainda que a princesa Isabel era uma mulher "feia como a peste e estúpida como uma leguminosa"!

Além do aspecto grotesco e desrespeitoso com que a coleção se refere a episódios e pessoas que – com méritos reais ou imaginários – fizeram a nossa História e contribuíram para a formação do nosso caráter nacional, a "obra" invade outro perigoso campo. Em clara tentativa de fazer doutrinação política e ideológica da juventude, assume posturas que agridem o princípio fundamental de qualquer trabalho didático sério e assentado em boa pedagogia, qual seja o de manter consciencioso distanciamento quanto às opiniões pessoais do autor.

Esta evidência fica patente nos textos em que a Nova História Crítica faz a apologia do socialismo e dos regimes autoritários, em contraposição às democracias capitalistas. Não se defende aqui, de modo algum, que o contrário seria o correto – mas é inadmissível que, em seu esforço de convencimento, o autor pudesse falsear os fatos e induzir inocentes crianças a considerar, por exemplo, como elogiáveis os massacres que vitimaram dissidentes dos regimes de Mao Tsé-tung e Fidel Castro.

Ou ainda definir simploriamente o capitalismo como um regime econômico em que "terras, minas e empresas são propriedade privada" dominada pela burguesia interessada apenas em lucro, ao passo que no socialismo tais bens e empresas pertencem à coletividade, "as decisões econômicas são tomadas democraticamente pelo povo trabalhador" e "tudo é feito com honestidade". Embutido em tais afirmações canhestras, encontra-se seguramente a intenção de infundir o conceito marxista da luta de classes.

O caso da coleção patrocinada pelo Ministério da Educação, infelizmente, não é único. Segue o mesmo diapasão o "Livro Didático Público" – uma outra coleção, custeada pela Secretaria da Educação do Paraná, voltada para alunos do ensino médio e escrita – disciplina por disciplina, capítulo a capítulo – por professores da rede pública estadual. Encontram-se nela "preciosidades" do mesmo gênero, como mostra reportagem encontrada na página 4 desta edição.

Um texto referente à Educação Física, de autoria do professor Gilson José Caetano, que leciona numa escola do município de Turvo, chama a atenção. Com esforço de doutrinação política, o autor argumenta, por exemplo, que as competições esportivas são uma invenção da burguesia e do capitalismo destinada a explorar e a dominar as massas, "com o intuito de impor idéias, tanto políticas quanto filosóficas, sobre os modos de produção e principalmente de consumo". E mais: o texto critica a proclamação de vencedores e campeões esportivos, pois entende que tal prática induz à condenável competição individualista, própria do mercado capitalista!

Não é justo, nem ético, nem sério que milhões de crianças brasileiras e paranaenses sejam doutrinadas desta forma e transformadas em massa de manobra político-ideológica. Se a prática continuar, pode-se temer que, dentro em breve, vejamos reproduzidos por aqui atos como o que acaba de praticar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que ameaça de fechamento todas as escolas que não respeitarem o currículo definido pelo governo e não ensinarem o socialismo bolivariano.

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