Em muitos aspectos, o Brasil se assemelha ao cão que persegue o próprio rabo: nem consegue mordê-lo nem consegue parar de correr. E tudo em vão. O doloroso retrato do déficit de moradias na região metropolitana de Curitiba, que mostramos em reportagem da edição de sexta-feira, é um dos exemplos daquela patética comparação canina: por mais que há décadas se venha discutindo a questão de dar casa a quem não tem, por mais que se tenham construído grandes conjuntos habitacionais, por mais que vastas áreas de ocupação tenham sido transferidas para a posse legítima de milhares de famílias ainda assim o déficit só faz aumentar.
Já se contam em quase 130 mil as famílias da RMC que esperam ser atendidas por programas habitacionais. Atualmente, elas moram precariamente em favelas e ocupações irregulares da periferia da capital e dos municípios conurbados. No total, segundo estimativas oficiais, são mais de 500 mil pessoas que vivem nessa situação ou seja, cerca de 20% da população da região, um em cada cinco de seus habitantes.
Não se diga que o poder público se omitiu totalmente. Só em Curitiba, isto é, excluindo-se as cidades circunvizinhas, 88 áreas, onde moravam 5 mil famílias, foram regularizadas. Mas nem parece, tantas foram as novas ocupações que surgiram no mesmo período. Não houve e não há como acompanhar o ritmo da favelização muito embora a solução para o problema da moradia esteja permanentemente inscrita entre as prioridades de todos os governantes e candidatos.
O déficit de moradias se insere entre os grandes dilemas brasileiros, difíceis de ser equacionados. Ele decorreu do inevitável processo de modernização da agricultura que, para ser eficiente e economicamente viável, liberou mão-de-obra em escala assustadora, principalmente nos últimos 30 anos, quando se deu o declínio da cafeicultura e a sua substituição por culturas mecanizadas. O dilema é este: à prosperidade agrícola correspondeu o desemprego de milhões de trabalhadores rurais, que não tiveram alternativa senão a de rumar para os grandes centros dentre os quais Curitiba e sua região metropolitana.
A promessa de vida melhor que esperavam encontrar aqui esbarrou no seu baixo nível de escolaridade e na sua desqualificação para o exercício das profissões urbanas, só lhes restando subabitar nas favelas e nas "invasões" de áreas públicas e particulares a maioria delas, aliás, incentivada ou organizada por partidos e movimentos políticos maldisfarçados em ONGs beneméritas. A estes mais interessava a manutenção do "status quo" do que o encontro sincero de soluções dignas para o problema social dos deserdados do campo.
Como não é possível nem conveniente paralisar o avanço tecnológico da agricultura, fica claro que Curitiba e região continuarão atraindo novas levas de trabalhadores rurais desempregados, com o conseqüente crescimento do déficit habitacional. O problema precisa, portanto, ser resolvido antes que chegue aqui. Ou seja, o interior deve contar com mais incentivos à agroindustrialização; com programas intensivos de educação e capacitação de mão-de-obra; com geração de oportunidades de emprego e renda; e com o fortalecimento econômico e das estruturas de atendimento social nos municípios.
Sem isso, não se verá luz no fim do túnel.
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