O sistema de transporte integrado de Curitiba e região metropolitana, que conta com mais de 2.500 ônibus e leva, diariamente, cerca de 2 milhões de passageiros, está sendo posto à prova, mais uma vez, diante dos novos desafios urbanos. Com o expressivo crescimento econômico e populacional da Grande Curitiba na última década, as ruas da metrópole estão cada vez mais abarrotadas de gente, veículos e problemas de toda a ordem, tornando a operação desse sistema mais difícil e complexo.
Como a alternativa do metrô é algo que, se for viabilizada, só vai acontecer em um prazo de no mínimo quatro, ou cinco anos, a municipalidade está sendo obrigada a trabalhar com fatores já existentes para desafogar o sistema de transportes e viário da capital. Mesmo que novas vias expressas tenham sido criadas e medidas instituídas, como a proibição de estacionamento em vias movimentadas além do guincho para quem estaciona em lugar proibido , o trânsito não melhorou muito nos últimos anos. Pelo contrário, as medidas só serviram para amenizar o impacto do crescimento do número de veículos em circulação. Em 2009, Curitiba fechou o ano com 1,15 milhão veículos, um aumento de 4,7% em relação ao ano anterior.
Quem paga o preço mais alto por este quadro é a própria população. A perda de tempo no trânsito e os transtornos pessoais causados por esse tipo de pressão diária, diante do aumento no período de circulação urbana, afetam a produtividade nas empresas e instituições de ensino, geram custos desnecessários, levando prejuízos aos cidadãos, municípios e Estado, como já foi comprovado.
Agora, a prefeitura anunciou que vai implantar faixas exclusivas para os ônibus em diversas vias importantes do centro da capital, como nas ruas João Negrão, Desembargador Westphalen e Barão do Serro Azul e nas avenidas Iguaçu e Água Verde. Esta é uma medida positiva porque resgata um princípio do planejamento da cidade que vigora há mais de trinta anos: prioridade ao transporte coletivo. Em um primeiro momento, a sinalização será reforçada nas pistas preferenciais. Em algumas vias, como a Avenida Iguaçu, o estacionamento não mais será permitido para que seja criada uma faixa exclusiva para os ônibus. Como acontece em outras cidades, o motorista que for flagrado trafegando na via exclusiva será multado.
Contudo, sem uma nova evolução qualitativa no sistema de transportes coletivos da capital seja com a implantação do metrô, ou a ampliação significativa do atual sistema sobre rodas medidas como essas serão sempre paliativas, com efeito de curto prazo. Se a prefeitura quiser resultados efetivos na sua política de planejamento e orientação de trânsito, terá de impor, cada vez mais, restrições ao transporte individual. Este é o preço que se paga para se viver em grandes cidades.
Não há dúvida de que o principal papel dos transportes coletivos é servir de meio de locomoção para as pessoas que não têm outras formas de ir e vir. Essa população, situada geralmente nas menores faixas de renda, representa a grande maioria dos moradores das grandes cidades. É preciso, no entanto, atrair os usuários de carros para que esta curva ascendente do tráfego individual seja revertida. Só um serviço rápido, confortável e realmente eficiente vai fazer com que as pessoas deixem seus carros em casa. Mesmo sendo uma das melhores capitais brasileiras no quesito transporte coletivo, Curitiba precisa evoluir muito para mudar este quadro.