A presidente diz que não há justificativa para falar em descontrole da inflação e cobra mais clareza dos críticos, mas não oferece à nação a mesma clareza e precisão

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A presidente Dilma Rousseff declarou, no dia 17, que a inflação vai fechar o ano dentro da meta e afirmou também que a taxa de alta nos preços vem caindo de maneira consistente nos últimos meses. A declaração textual da presidente foi: "É incorreto falar em descontrole da inflação ou das despesas do governo. É desrespeito aos dados, à lógica, para dizer o mínimo. A informação parcial, da forma que muitas vezes é explorada, confunde a opinião pública e visa criar um ambiente de pessimismo. O barulho tem sido muito maior que o fato".

Tomada ao pé da letra, a declaração de Dilma dá a impressão de que a inflação de 2013 vai ficar na meta, logo, a política anti-inflacionária está correta e vai bem. A presidente tem a mania de reclamar dos críticos e se refere, meio raivosa, aos que ela chama de "pessimistas", entre os quais estão os críticos da inflação e da demora do Banco Central (BC) em elevar os juros para tentar frear a tendência altista dos preços. A presidente cobra mais clareza dos críticos e exige que eles olhem melhor as elevações de preços, as contas públicas e a situação da dívida pública. Segundo ela, não há descontrole e os indicadores são bons, por isso não há justificativa para falar em descontrole da inflação.

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Entretanto, a presidente não oferece à nação a mesma clareza e precisão que cobra de seus críticos, especialmente sobre a inflação. Há sinais, sim, de que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pode ficar menor em julho, talvez próximo de zero, revelando reversão da tendência altista dos preços que vinha acontecendo. Mas nem por isso a inflação está controlada, como também não vai fechar "dentro da meta". Quando Dilma afirma que vai "fechar dentro da meta", ela está se referindo à taxa de 6,5%, que não é a meta básica, mas o teto máximo aceito na resolução do BC que fixa a meta de inflação para 2013.

A meta de inflação fixada pelo BC é de 4,5%, com admissão de dois pontos porcentuais para mais ou para menos. Assim, 6,5% no ano é o teto máximo aceito pelo BC, a partir do qual o combate à inflação deve ser intensificado. É isso que está ocorrendo, pois o IPCA acumulado em 12 meses já atingiu o teto e vinha ameaçando superá-lo. Uma taxa de inflação querendo se aproximar dos 7% ao ano é muito alta, danosa ao sistema produtivo, capaz de desorganizar o mecanismo de preços e suficiente para corroer fortemente o poder de compra dos salários e piorar o padrão de vida da população. Além desses efeitos, nesse nível a inflação prejudica o crescimento econômico e eleva o desemprego mais adiante.

Caso, por alguma razão ou pela atuação do BC, a inflação venha a retroceder e se aproximar da meta de 4,5% em 2013, a presidente Dilma poderá contar vantagem em seu discurso de fim de ano e, como ela gosta, dar um puxão de orelha em seus críticos. Porém, neste momento, não é o que os números estão indicando, e falar que 6,5% é "ficar dentro da meta" não é propriamente um exercício de clareza. O BC elevou a taxa básica de juros, a Selic, para 8,5% ao ano justamente porque a inflação está no limite superior da faixa de tolerância, cumprindo o que havia anunciado o presidente do órgão, Alexandre Tombini: que o BC não iria ficar passivo diante do aumento do IPCA.

A presidente sabe que a inflação é o mal principal a ser combatido, tanto pelos efeitos diretos em termos de corrosão do poder de compra quanto pelo custo social de combatê-la. Ao elevar a Selic para 8,5% ao ano, o BC tem a pretensão de segurar os preços, mesmo sabendo que isso prejudicará o crescimento econômico, pois juros mais altos desestimulam os investimentos das empresas e o consumo das pessoas.

O que menos a presidente Dilma quer neste momento é a redução na taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), sobretudo porque em seu governo o PIB vem tendo comportamento pífio, como ficou claro no crescimento de apenas 0,9% no ano passado. Em economia, quando um dos fundamentos desanda, não existe cura sem dor; quanto mais o governo demorar em tomar as medidas, mais dolorido terá de ser o remédio e maiores serão os custos sociais de consertar o que está errado.

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A presidente deveria aceitar melhor os críticos e os pessimistas, pois eles têm importante papel e relevante contribuição a dar ao governo, já que são caçadores de erros e apontadores de caminhos alternativos.