O presidente Lula passou quase três meses longe do Brasil ao longo de 2009. Foram mais precisamente 81 dias, durante os quais visitou 31 países. Em 2010 não será diferente: já estão programadas visitas a mais 15 países até o mês de julho. Que não se negue o incontestável foco de atração de holofotes por onde passa, o presidente tem sido, ao longo de seu mandato, um eficiente "vendedor" do Brasil, colocando as cores verde-amarela como protagonista na teia da diplomacia internacional.

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A presença sempre brilhante de Lula não representa, porém, necessariamente, que o Brasil tenha melhorado qualitativamente em matéria de política externa durante sua gestão. Se, em certo momento, o presidente merece do poderoso colega Barak Obama o epíteto "o cara" e em outros recebe de grandes e influentes jornais como "El País", da Espanha, e "Le Monde", da França, títulos de personalidade do ano, a tradição de excelência da diplomacia brasileira perdeu grande parte de seu lustro.

Uma visão panorâmica das posições nacionais perante o mundo leva-nos claramente à noção de que, com Lula no poder, passamos a exercer muito mais uma diplomacia "de governo" do que "de Estado". O governo, ente transitório, sai-se bem no plano internacional do ponto de vista do protagonismo político. Mas o Estado brasileiro, considerando-se a sua permanência, peca pela falta de uma atuação diplomática consequente, que de fato o eleve à condição de participante influente ou decisivo nas grandes decisões que afetam o planeta.

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Qualquer diagnóstico que se faça a respeito da política externa sob a gestão Lula leva-nos logo à conclusão de que ela foi contaminada pela visão político-ideológica do PT, o partido que dá suporte ao governo. Daí a agir e aproximar-se de governos com o mesmo viés foi um passo. Referimo-nos de modo especial ao cenário latino-americano, dentro do qual, embora sejamos a nação com o maior peso territorial e econômico, nossa atuação tem sido marcada pela evidente influência do populista e mal definido socialismo bolivariano de Hugo Chávez, o presidente da Venezuela.

No afã de disputar com ele a boa-vontade de vizinhos, a diplomacia brasileira adotou uma política de concessões sucessivas, que atingem até a nossa própria e inegociável soberania. Foi assim, num dos casos mais clamorosos, que nos curvamos à mão grande de Evo Morales, que facilmente nos impôs a perda de instalações da Petrobras na Bolívia e obrigou-nos a revisão de contratos comerciais de gás. Não reagimos ao atentado econômico do Equador contra o BNDES e uma grande empresa brasileira que atuava no país de Rafael Correa. O Paraguai do prolífico presidente Fernando Lugo obteve quase tudo o que quis em relação à hidrelétrica de Itaipu.

Foi de Hugo Chávez a ação que levou o Brasil a hospedar por três meses o deposto presidente de Honduras, Manuel Zelaya, em nossa embaixada em Tegucigalpa. A pretexto de defender a democracia nesse país da América Central, nossa desastrada atuação no episódio só nos serviu para perder condições morais e políticas para intermediar uma solução pacífica para a crise institucional que afetou o país.

Por fim, para não alongar ainda mais o rosário de trapalhadas da diplomacia petista no continente, outra concessão que não pode ser esquecida foi a recente aprovação, pelo Congresso Nacional, do ingresso da Venezuela no Mercosul. Desconhecemos o caráter ditatorial do regime chavista, ignoramos as cláusulas democráticas do tratado que instituiu o bloco e ajudamos a plantar dentro dele um governo que desrespeita as liberdades de imprensa, opinião e iniciativa e que conspurca a organização política do próprio país ao esmagar o Judiciário e o Legislativo.

Tal política não traz nem resultados econômicos plausíveis nem fortalece a presença política do Brasil no continente – assim como não nos engrandece nem nos faz ser respeitados pelo mundo civilizado a defesa que o governo faz para manter como "refugiado" em nosso país Cesare Battisti, condenado na Itália pela prática de quatro homicídios, não levando em consideração os acordos de extradição que firmamos.

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É desnecessário referirmo-nos ao caso do Irã, país que hoje aparece como uma das principais ameaças à paz internacional, do qual nos aproximamos – para surpresa e indignação da parte civilizada do mundo. Acolhemos com honras, dias atrás, Mahmoud Ahmadinejad – o radical que desconhece o Holocausto e que busca obstinadamente transformar seu país em perigosa potência nuclear.

Se, internamente, o governo do presidente Lula conquistou a simpatia da grande maioria da população; se se deve a ele a continuidade responsável de uma política econômica que tente nos devolver à trilha do crescimento; se não há reprimendas a lhe fazer quanto ao respeito às liberdades democráticas – o mesmo elogio, porém, não se lhe pode fazer em relação à política externa.