Dois acontecimentos históricos no cenário internacional marcaram a semana. Primeiro, a decisão da Organização dos Estados Americanos (OEA) de levantar a suspensão imposta a Cuba, depois de 47 anos de exclusão. Foi o epílogo de mais um capítulo da Guerra Fria. Logo em seguida, tivemos o discurso do presidente Barack Obama na Universidade do Cairo, pregando a aproximação com o mundo islâmico. Aparentemente, apenas discursos, mas, na verdade, a marcha da História, que tem o seu tempo próprio. Ainda é pouco, até porque, paralelamente, ferve o caldeirão da Coreia do Norte com seu exibicionismo nuclear, herança, igualmente, das velhas tensões internacionais de um mundo hegemônico, política e cruelmente bipolar, e que não ruiu completamente há 20 anos, junto com o Muro de Berlim.

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De qualquer modo, são avanços consideráveis, até mesmo quando o regime cubano diz que não pretender retornar à OEA, embora tenha comemorado como "uma vitória" a decisão tomada por representantes de todos os 34 países da organização, dos Estados Unidos à Venezuela.

A resolução, adotada por consenso, não implica a volta automática dos cubanos à OEA, o que não é novidade em um processo que se desenvolve passo a passo. Aliás, o eventual retorno de Cuba dependerá de um processo de diálogo aberto a pedido do país caribenho e de acordo com os "princípios e propósitos’" da organização. Como destacou o secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, o resultado prático para Cuba não virá "amanhã ou no dia seguinte". Mais ainda: o importante era tirar da OEA "um pedaço de sucata’".

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O texto aprovado na Assembleia-Geral de chanceleres, em San Pedro Sula, Honduras, tenta conciliar duas ideias: o reconhecimento do anacronismo da decisão de 1962, que expulsou o governo cubano sob a acusação de receber ajuda militar de "potências comunistas extracontinentais" (a então União Soviética), e a reafirmação dos atuais documentos da OEA, entre eles a Carta Democrática aprovada em 2001, que prega "a defesa e a promoção da democracia representativa".

Aposenta-se também, voltando-se a um passado um pouco mais remoto, resquícios da política de Theodore Roosevelt, o vigésimo sexto presidente dos EUA (1901 a 1909), para quem o grande porrete era a solução. Ou, no original, o big stick como instrumento norteador da política externa. Segundo o provérbio adotado por Roosevelt, era aconselhável "falar com suavidade e ter na mão um grande porrete."

No outro extremo da história, e em todos os sentidos, o presidente Obama, depois de fazer a tradicional saudação salam alekum (que a paz de Alá esteja convosco) e citar várias vezes o Corão, apresentou, na Universidade do Cairo, propostas para selar um "novo começo" nas relações entre os Estados Unidos e o mundo muçulmano. Primeira iniciativa: colocar um fim à "desconfiança mútua" como forma de pacificar o Oriente Médio. Dirigiu-se em especial ao 1,5 bilhão de muçulmanos da Terra. E defendeu algo que, apesar de conter boa dose de utopia, representa uma bela missão para o mundo: "o ciclo de desconfiança e discórdia precisa acabar".