Não basta enviar dinheiro para ajudar as populações de países pobres no tratamento de doenças como aids, tuberculose ou malária. É preciso fiscalizar. Somente se os gastos ocorrerem de forma transparente e se houver fiscalização, é que realmente se estará realizando a tão esperada "ajuda humanitária". Infelizmente, não é o que sempre acontece. Relatório feito pela Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado nesta semana, detectou esquemas de desvio de vultosas doações em países pobres.

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Conforme relatório de auditores do Fundo Global da ONU, cerca de dois terços dos recursos enviados não chegam a ser usados pelos países beneficiados em prol de seus cidadãos. Na tentativa de se justificar gastos, são geralmente usados documentos falsificados e contabilidade "obscura". Nos 20 países pesquisados, os auditores estimam que os desvios ultrapassem a cifra de R$ 50 milhões. Entretanto, os valores desviados podem ser muito maiores, pois o volume de recursos auditados até agora é um fração ínfima do que já foi enviado aos países pobres nos últimos oito anos. Desde 2002, o Fundo Global financiou programas de saúde no valor de US$ 10 bilhões em países em desenvolvimento.

Pensando de forma realista, só haverá uma forma de se estabelecer um programa efetivo de ajuda a países pobres. Será necessário haver mais atenção por parte dos doadores ao fim dado aos recursos enviados. Do contrário o que se terá é mera ilusão de contribuição para o tratamento de milhões de pessoas carentes.

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E para que isso ocorra, é preciso que as doações sejam realizadas dentro de um ambiente mais responsável. Os países beneficiados por programas de ajuda devem se comprometer a aplicar esses recursos de forma transparente, como contrapartida ao dinheiro enviado. Mas não só. É preciso que se comprometam a implantar mudanças administrativas e legislativas a fim de se garantir a correta aplicação dos recursos que lhes forem destinados. O comprometimento do país beneficiado, inclusive com a responsabilização de culpados por desvios, é vital para que os programas de ajuda possam ter resultados efetivos.

De outro lado, o Fundo Global e os países doadores precisam não só enviar recursos para programas de saúde em nações carentes, mas também concentrar sua atenção para que as ações realizadas com o dinheiro que destinam sejam efetivas. A lição que se tira do relatório apresentado pelos auditores do Fundo Global é que será necessário pensar não somente em fiscalizar, mas em buscar mecanismos que dificultem a ocorrência de desvios de recursos.

Em tempos de governança global, é imprescindível que as melhores práticas de gestão sejam incentivadas nos países pobres ao mesmo tempo em que são destinadas elevadas somas de recursos para programas de saúde, pois o quadro que se tem hoje demonstra que ajudas humanitárias só vão cumprir seu objetivo se, ao mesmo tempo, houver preocupação com a aplicação eficiente dos recursos envolvidos.