O economista Arthur Okun é tido como o criador do “índice de miséria”, indicador resultante da soma da taxa de inflação com a taxa de desemprego e que representa uma das piores situações sociais vividas por qualquer nação. Tem-se como fato que, a partir de um dado nível, a inflação é um mal social extremamente perverso, por seu efeito de desorganizar o sistema de preços, inibir investimentos, reduzir a produção e diminuir o poder de compra dos salários. Quanto ao desemprego, não é preciso ser especialista para concluir que se trata de um dos maiores males sociais que um povo pode sofrer.
Algum nível de desemprego é normal e não gera problemas mais graves, sobretudo em razão da mobilidade do mercado de trabalho, que coloca um dado número de pessoas momentaneamente desempregadas. Entretanto, a partir de certo nível, o desemprego passa a se constituir em chaga social causadora de empobrecimento e dramas familiares. Para o autor do “índice de miséria”, a soma da taxa de inflação mais a taxa de desemprego começa a produzir consequências econômicas e sociais sérias quando chega a 12. Se ultrapassado esse índice, a situação econômica pode ser classificada como bastante grave e deve ser combatida com urgência, ainda que com medidas duras e impopulares.
Os dados da inflação e do desemprego em março passado mostram que o Brasil acaba de ingressar na zona vermelha e perigosa do índice de miséria de Okun. A inflação de março ficou em 1,32%, fazendo o índice acumulado dos últimos 12 meses bater nos 8,1%, muito acima do centro da meta de inflação, que é de 4,5% ao ano, e acima do teto da meta, que é de 6,5%. O desemprego em março apresentou a taxa de 7,4% sobre a população economicamente ativa (aquela em idade e condições de trabalhar). A soma da inflação (8,1%) mais o desemprego (7,4%) resulta em 15,5 – portanto, acima dos 12 sugeridos por Okun como o teto para o ingresso no “índice de miséria”.
A agressão aos princípios básicos da economia sempre acaba cobrando um preço alto
Porém, o que chama a atenção no Brasil é que ambos os índices estão subindo simultaneamente, coisa que os manuais de economia afirmam ser uma distorção e uma anormalidade. Os estudos teóricos correlacionando inflação e desemprego apontam que, pelo menos no curto prazo, existe uma relação inversa entre os dois fenômenos. Ou seja, períodos de inflação alta induzem a baixo desemprego, e períodos de alto desemprego provocariam queda na inflação. A explicação é simples. Se os gestores da política econômica pisam no acelerador, expandindo a moeda em circulação, baixando juros e aumentando os gastos do governo, a demanda agregada (consumo mais investimento) é aumentada e provoca aumento da produção (portanto, menos desemprego) e elevação dos preços (portanto, mais inflação).
O contrário também ocorre. Se o governo adota austeridade fiscal (menos gasto público) e austeridade monetária (menos dinheiro circulando e juros mais altos), menor é a demanda agregada e menor é a produção, resultando em elevação do desemprego e queda dos preços. Tudo isso considerado, a elevação de ambos – inflação e desemprego – simultaneamente é o efeito de outras distorções e configura quadro de crise econômica e empobrecimento social. É a realidade que o Brasil vive hoje.
O aumento do desemprego, que reduz a renda do trabalho disponível para consumo das famílias e provoca menor consumo, deveria contribuir para a redução dos preços, e não para aumentá-los e provocar elevação da inflação. As explicações para essa distorção estão no governo. Parte dos preços mais relevantes da economia é controlada pelo governo, caso dos combustíveis, do transporte público e da energia. Como o governo conteve esses preços artificialmente para segurar a inflação, os reajustes autorizados neste ano fizeram a inflação explodir, mesmo num quadro de quase recessão. O caso do preço da energia é elucidativo. No Paraná, a fatura aumentou 78% em 12 meses, puxando a inflação para cima.
A combinação indesejável e perigosa desses dois males – inflação e desemprego – subindo ao mesmo tempo é resultante das ações de um governo que resolveu brincar com a economia nos últimos quatro anos. A agressão aos princípios básicos da economia sempre acaba cobrando um preço alto, coisa que governos minimamente competentes já deveriam ter entendido a fim de não impor sacrifícios sociais perfeitamente evitáveis.
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