Às pressas, a presidência da Câmara dos Deputados promoveu reuniões com líderes partidários na tentativa de viabilizar a retomada da votação do projeto da reforma política. Não foram descartas mudanças na proposta, como a inclusão da chamada lista fechada "flexível", ou no encaminhamento da matéria, como a mudança na ordem de votação. Até agora, com uma semana de trabalho, os deputados não foram além da discussão de contornos.
O número de emendas aumentou, passando para 346, todas dependendo de parecer do relator, da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e da Comissão de Finanças e Tributação. A lista fechada foi o primeiro item acertado pelos líderes para votação da proposta, mas acabou adiada na hora de formalização do acordo. A principal divergência continua sendo a proposta de mudança nas regras das eleições proporcionais, com a adoção das listas pré-ordenadas. O formato previsto no texto original, a lista fechada, escolhida exclusivamente pelos partidos, foi criticado por vários parlamentares, o que impediu o início da votação .
Um balanço do que foi feito até agora mostra que, entre as emendas apresentadas, várias propõem mudanças no sistema de listas. Uma delas, apresentada por um grupo de 12 partidos, propõe a adoção de um sistema misto. Ou seja, metade das vagas de parlamentares seria eleita por meio de lista fechada de partidos, e a outra, pelo voto direto no candidato.
Já a proposta de financiamento público de campanha também é alvo de críticas. Há quem alegue que o financiamento exclusivamente público de campanha só funcionaria se estivesse acoplado ao sistema de lista fechada, que poria fim às campanhas individuais. O bloco que defende essa tese alega que a combinação impediria a arrecadação paralela de recursos e a possibilidade de caixa dois. As campanhas seriam feitas pelos partidos para divulgar suas listas , com os recursos transferidos pelo governo.
Na verdade, o financiamento público já existe na modalidade de renúncia fiscal para as empresas de comunicação que cedem o horário eleitoral para os partidos, além da fidelidade, no voto de legenda e na obrigatoriedade de ser filiado a um partido para se candidatar. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já se pronunciou, decidindo que os mandatos pertencem aos partidos.
Mas, como pondera o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, favorável à reforma política, que seria "a reforma das reformas", é preciso também uma mudança cultural, "de homens públicos que observem a ordem jurídica em vigor". Os últimos episódios, incluindo o escorregadio caso Renan Calheiros, confirmam, no entender do ministro, o amadurecimento do processo democrático no país. "A opção pela discussão fará com que o país saia desse processo mil vezes mais fortalecido", acredita o ministro, para quem "toda vez que se tem um desvio de conduta detectado, os homens públicos tendem a manter os freios inibitórios mais rígidos, tendem a se apegar mais aos princípios, a velar mais pela coisa pública, tão maltratada nesse país".
A aprovação da reforma política é questão urgente, sem que isso signifique que o sistema não possa sofrer as reformulações que se fizerem necessárias ao longo do tempo.