As enxurradas que arrasaram municípios do Rio de Janeiro no mês passado, causando centenas de mortes e deixando milhares ao desabrigo, chocaram os brasileiros de Norte a Sul que acompanharam, estupefatos, o drama dessas populações. Por aqui, aliviados, muitos devem ter pensado que, felizmente, não moram naquelas cidades duramente castigadas pela catástrofe. Estariam a salvo do flagelo das águas que atinge rotineiramente, a cada início de ano, não só o Rio, mas ainda outros estados brasileiros. Será mesmo? Contrariamente, a realidade está mostrando que as enchentes são um problema para os paranaenses, mesmo sem a dimensão de outras regiões do país.
A questão merece ser comentada diante das intensas chuvas dos últimos dias no estado e dos problemas decorrentes que se sucedem de uma forma cada vez mais frequente. Em Curitiba e região metropolitana, as inundações desta semana foram responsáveis por pelo menos duas mortes e uma leva de desabrigados; de uma hora para outra, milhares de pessoas viram-se abandonadas pela sorte e jogadas ao léu sem um teto para morar.
O crescimento da capital paranaense verificado nos últimos anos, com o consequente aumento populacional, acarretou inevitavelmente uma série de problemas típicos de uma cidade grande. Alguns deles apresentando relação direta com o favorecimento de condições propícias à ocorrência de alagamentos, desmoronamentos e desabamentos. Podemos citar, a propósito, a poluição provocada pelo lixo jogado nos rios e córregos que cortam a cidade, a falta de um trabalho rotineiro de desassoreamento desses afluentes e a ocupação irregular de áreas na periferia; a crescente impermeabilização do solo em áreas centrais, que acaba comprometendo em certa medida a absorção da água, também é fator que contribui para a situação.
Diante do problema, e até mesmo como forma de evitar o seu agravamento no futuro, a prudência recomenda que ações preventivas efetivas sejam tomadas com urgência. Lamentavelmente, a constatação à que se chega é de uma total inabilidade dos administradores públicos em lidar com situações dessa ordem. Preferencialmente, a opção parece ser a de deixar acontecer para depois remediar, numa permanente repetição de explicações e promessas de providências. A edição de ontem desta Gazeta do Povo mostrou que até mesmo os parques curitibanos, criados entre outras coisas para servir como bacias de acumulação de água, já se mostram insuficientes para cumprir com sua função quando de chuvas mais intensas e prolongadas. Detalhe sobre esses parques é que foram implantados entre as décadas de 70 e 90; portanto, lá se vão mais de vinte anos. De lá para cá o que foi feito? A prefeitura curitibana está acenando agora com ações que vão desde a dragagem e despoluição de rios até a criação de novos parques, o que se espera que ocorra efetivamente e em um curto prazo de tempo.
Somente obras, entretanto, não serão suficientes. Um trabalho de conscientização da população sobre o papel que pode desempenhar, notadamente no tocante à redução da poluição que acaba entupindo galerias, rios e córregos, é fundamental. Acrescente-se a isso um melhor aparelhamento das equipes da Defesa Civil encarregadas de cuidar das populações flageladas. Apenas com ações abrangentes e a participação comunitária será possível evitar que Curitiba e região metropolitana assistam a uma crescente degradação das condições de enfrentamento das chuvas e suas consequências.