Lula e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Luiz Marinho (Trabalho), no lançamento do programa Crédito do Trabalhador.| Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
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Antes mesmo do anúncio de que o PIB brasileiro subiu 3,4% em 2024, o presidente Lula já estava prometendo que em 2025 as previsões atuais do mercado financeiro estariam erradas mais uma vez. “Falam que vai haver recessão e o Brasil vai crescer no máximo 2,5%. Vai crescer um pouco mais de 2,5%, pode ter certeza”, afirmou em fevereiro. É verdade que o resultado do ano passado superou – e muito – o 1,59% que o mercado financeiro previa, de acordo com a mediana das projeções no primeiro Boletim Focus de 2024. Mas o Brasil seria capaz de repetir a dose e bater os 2% que o mercado vem prevendo nas recentes sondagens do Banco Central? Lula acha que sim, mas a maneira como ele pretende fazer isso pode terminar com um motor fundido antes que a corrida termine.

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“O que roda a economia é dinheiro na mão do povo”, afirmou Lula em evento da Petrobras no Rio Grande do Sul, no fim de fevereiro, enquanto pedia à claque de apoiadores que “não acreditem nessa bobagem da macroeconomia”. E botar dinheiro na mão do povo é o que o governo tem feito. Em 28 de fevereiro, foi publicada a medida provisória que libera o saldo remanescente do FGTS de trabalhadores que optaram pelo saque-aniversário e foram demitidos entre janeiro de 2020 e fevereiro deste ano – pelas regras anteriores, esses trabalhadores não podiam sacar o valor na rescisão. Outra MP, do último dia 12, criou o programa “Crédito do Trabalhador”, que oferece a trabalhadores da iniciativa privada a possibilidade de empréstimo consignado a juros menores, como já ocorre com servidores públicos e aposentados.

De nada adianta o brasileiro ter mais “dinheiro na mão”, como quer Lula, se esse dinheiro vale (e compra) cada vez menos

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Ambas as medidas, em si mesmas, até são defensáveis, inclusive de um ponto de vista liberal – a Frente Parlamentar pelo Livre Mercado, por exemplo, elogiou a liberação dos recursos do FGTS e defendeu o “direito do trabalhador de acessar seu próprio dinheiro e utilizá-lo da melhor forma possível”, por mais que a ideia original do FGTS fosse a de proporcionar ao trabalhador um “colchão” que não o deixe totalmente desamparado em caso de demissão. O problema é a ideia de fundo que orienta ambas as medidas: a de que basta seguir colocando “dinheiro na mão do povo” para que a economia cresça indefinidamente. Não à toa um dos aliados de Lula, Sérgio Nobre, presidente da CUT, defendeu a MP do FGTS afirmando que se trata de dar ao trabalhador a chance de “usar esse recurso para pagar contas, consumir e, assim, injetar mais dinheiro na economia”.

Acontece que a economia brasileira já está superaquecida, rodando acima de sua capacidade atual – na linguagem técnica, há um “hiato do produto positivo”, especialmente no setor de serviços, como afirmam os recentes comunicados que o Copom publica após as reuniões em que tem elevado os juros. E este superaquecimento não tem como durar muito mais tempo antes de um colapso, do qual um dos sintomas é a aceleração da inflação. O então presidente do BC Roberto Campos Neto havia feito esse alerta em abril do ano passado, quando, comentando dados do mercado de trabalho, disse que “quando as empresas não conseguem contratar e têm que começar a subir o salário para o mesmo nível de produção, significa que você está iniciando um processo inflacionário”. Lula usou a frase para afirmar, malandramente, que Campos Neto queria que o brasileiro não ganhasse mais, omitindo a importante condicional “para o mesmo nível de produção”: se a demanda cresce, já que a população tem mais dinheiro para gastar, mas a oferta não aumenta, ou pelo menos não acompanha a demanda, o resultado lógico é o aumento dos preços.

E de nada adianta o brasileiro ter mais “dinheiro na mão”, como quer Lula, se esse dinheiro vale (e compra) cada vez menos – em parte, porque o próprio governo também gasta sem limites, endividando-se ainda mais e contribuindo para a desvalorização da moeda. Este, sem tirar nem pôr, foi o roteiro da “nova matriz econômica”, do “gasto é vida” dilmista que nos legou a maior recessão da história. E fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes, já disse alguém, e a definição de insanidade.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]