No primeiro turno da eleição presidencial, um dos candidatos chegou a aborrecer os eleitores com sua monocórdica pregação em favor do que chamou de "revolução pela educação". Foi derrotado. Não conseguiu nem 3% dos votos. Deve-se reconhecer, no entanto, os méritos da insistência do candidato quando não pela evidência de que a educação que o Brasil dispensa aos seus jovens é de fato sofrível em quantidade e qualidade, como também pela constatação que fazem neste mesmo sentido respeitadas instituições internacionais.
É o que ficou confirmado no relatório divulgado há dias pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial ao final do Fórum Econômico Mundial realizado em Cingapura. Nele, o Brasil aparece na 66.ª posição numa lista de 125 países avaliados por suas condições de competitividade. Trocando em miúdos, competitividade é o critério para medir a capacidade dos países de produzir mais, melhor e mais barato.
E isso tudo tem a ver com educação. Vê-se desde logo no ranking preparado pelo fórum que são de modo geral mais competitivos justamente os países que investiram mais em educação pois sem esse quesito não se produz ciência pura nem aplicada, não se desenvolvem tecnologias inovadoras, não se consegue eficiência e sofisticação nos negócios. Ou seja, sem educação as nações não se livram da dependência externa e pagam muito caro por esse desmazelo na forma de baixos índices de desenvolvimento econômico e sobretudo social.
O 66.º lugar ocupado pelo Brasil retrata uma triste situação. Está abaixo de outros países emergentes com os quais é freqüentemente comparado, como Rússia, Índia e China. Na América Latina, perde para o Chile, o México e até para a Colômbia. Fica bem atrás de alguns que até há bem pouco tempo figuravam entre os últimos do mundo em matéria de desenvolvimento, como a Coréia do Sul, Taiwan e outros Tigres Asiáticos. E a receita de sucesso desses é bem conhecida: maciços investimentos em educação. Claro, não é preciso dizer que a lista é encabeçada por países como a Suíça, Finlândia, Suécia, Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra que, sabidamente, dispõem de sistemas educacionais com tradição de excelência.
Há uma característica comum entre os países mais bem colocados na pesquisa. Seus trabalhadores são mais produtivos e ganham melhores salários porque, tendo recebido melhor educação, adquiriram conhecimentos e competências para o exercício profissional. E porque produzem mais e melhor, mais ricos tornam seus países e menos desigual sua sociedade.
Para se ter idéia das razões que nos levaram à retaguarda no relatório do FMI/Banco Mundial basta comparar: no Brasil, a escolaridade média é de 5 anos, enquanto que no Japão e na Coréia do Sul a média é de 12 anos. Na Rússia, 10 anos; no México, 10. A nota que mede a qualidade do ensino de Matemática e de Ciências é de 2,9 no Brasil e de 6,5 em Cingapura, numa escala de 1 a 7 pontos.
Por isso como nossos trabalhadores têm dificuldades até para entender manuais e para utilizar equipamentos mais sofisticados sua produção é baixa. Só para citar um exemplo: em fábricas iguais de telefones celulares aqui e na Finlândia, a produção de aparelhos é quantitativamente bem diferente no Brasil, são produzidos nove aparelhos por hora; lá, 15 aparelhos. Ou seja, produz-se mais riqueza em menos tempo onde é melhor o preparo educacional dos trabalhadores. Isto é competitividade.
Conclusão: os países não investem em educação porque são pobres; ao contrário, são pobres porque não investem em educação. Esse é o grande desafio que o Brasil precisa vencer uma prioridade que o próximo presidente, seja ele quem for, deve iniciar a qualquer custo.