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A reunião de Cúpula das Américas, que começa amanhã e vai até domingo, em Trinidad e Tobago, tem tudo para representar um novo marco nas relações entre os governos de países americanos democraticamente eleitos. Apesar de ausente, Cuba promete ser o tema principal das reuniões, diante do pacote de medidas lançado pelo presidente americano Barack Obama para amenizar as restrições à ilha, em vigor há 47 anos. O encontro, portanto, começa sob um clima otimista.

O pacote norte-americano, que vinha sendo costurado por Obama desde a campanha eleitoral de 2008, estabelece um novo patamar nas relações entre os dois países. Obama mandou levantar as restrições para viagens e para as remessas de dinheiro e de bens de consumo a Cuba. Assim, por exemplo, ficou suspensa a proibição de enviar aos cubanos roupas, sementes ou artigos para a pesca. As remessas poderão ser dirigidas a qualquer cidadão da ilha, à exceção de funcionários do regime castrista. Além disso, as visitas à ilha não mais se submeterão a limites de tempo ou frequência (cerca de 1,5 milhão de cidadãos norte-americanos têm parentes em Cuba). Obama também determinou medidas para facilitar as comunicações com a ilha. Assim, pessoas que desejarem poderão pagar, a partir do exterior, os telefones celulares de moradores cubanos.

Como se vê, as medidas têm efeito positivo, principalmente para as famílias que dividem-se entre Cuba e os Estados Unidos. Mas é sob a perspectiva de longo prazo que a iniciativa mostrará a sua real dimensão. Com a dose de liberdade que passam a experimentar, gradativamente, os cubanos terão mais condições de comparar o regime em que vivem com um modelo da ampla liberdade, tão caro aos Estados Unidos. A rigor, é o primeiro empurrão para conduzir ilha à democracia.

O Itamaraty já deixou claro que a ausência de Cuba na reunião das Américas é uma "anomalia" e precisa ser urgentemente "corrigida". Da mesma forma, o presidente Lula vai tentar anular a expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA). É evidente que tudo isso depende essencialmente de um compromisso do governo de Havana com a adoção de princípios democráticos. O próximo gesto de boa vontade, portanto, deve partir do governo de Havana. E o momento não poderia ser mais propício. Pela primeira vez desde 1994 o foco da Cúpula das Américas não é econômico. Em vez das emperradas discussões sobre a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), a pauta será composta por questões sociais e de direitos humanos, bem como em temas que dizem respeito ao futuro de todo o planeta, como proteção ambiental e produção de energia.

O fim do debate monocórdio abre oportunidade para novos pontos de vista – nem todos tão consensuais entre os latino-americanos quanto é o da Alca. É lógico aguardar maior pluralidade e alinhamentos menos previsíveis da cúpula que começa amanhã. Nesse cenário, espera-se que o governo Lula se distancie da influência incendiária dos líderes da Venezuela, da Bolívia, do Equador e da Nicarágua, e cumpra seu papel de mediador responsável. É pelo caminho do diálogo que as Américas podem seguir avançando, como está sendo demonstrado pela iniciativa de Obama em começar a levantar as restrições impostas a Cuba.

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