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Paulatinamente a calma volta a reinar nas ruas do Cairo, depois da renúncia do presidente Hosni Mubarak no último dia 11, pressionado por milhares de egípcios, que foram às ruas exigir a sua saída do governo. Por enquanto, o clima é de euforia popular com a queda de uma das ditaduras mais longevas do mundo árabe – 30 anos no poder – e pela promessa dos militares, que assumiram as rédeas do país, de convocar eleições livres num prazo de seis meses.Travestida de pseudo democracia, o governo de Mubarak vinha afundando num lodaçal de corrupção, clientelismo e ausência das esperadas e necessárias reformas econômicas e políticas ansiosamente aguardadas pela população.

Antes do Egito, também a Tunísia foi sacudida pelo vendaval de insatisfação popular que culminou com a deposição do ditador Zine El Abidine Ben Ali, que governava o país com mão de ferro há 23 anos. Os dois episódios revelam claramente a possibilidade cada vez mais concreta de um efeito dominó atingir outros países islâmicos igualmente submetidos a regimes ditatoriais ou oligárquicos. Argélia, Bahrein, Iêmen e Irã, por exemplos, já enfrentam crescentes manifestações de descontentamento popular.

O cenário traz preocupação diante da dimensão e das consequências imprevisíveis que podem advir para uma região do mundo que apresenta ao mesmo tempo delicado equilíbrio político e estratégico interesse econômico para o mundo, em razão do mar de petróleo ali concentrado. A expectativa, nos casos da Tunísia e do Egito, é da substituição dos governantes depostos por regimes livres eleitos pelo voto. Por mais que exista intenção e boa vontade explicitadas para caminhar nesse sentido, é preciso reconhecer que muitos obstáculos precisam ser superados para garantir a implantação de democracias verdadeiramente autênticas. Caso contrário, corre-se o risco de ocorrer uma simples troca de mãos do poder. Como conciliar os multifacetados interesses políticos, étnicos e religiosos dos diferentes estratos que compõem essas sociedades é um desafio que se apresenta desde já para o encaminhamento das mudanças institucionais, tanto por parte de tunisianos como de egípcios.

Afinal, a simples deposição de governantes ditatoriais ou corruptos por si só não é a garantia de problema resolvido. Vale recordar o ocorrido no Irã, que com a queda em 1979 do Xá Reza Pahlevi viu a ascensão dos aiatolás ao poder e início de um regime teocrático fechado. Em 2003, o mundo acompanhou a derrota e a queda de Saddam Hussein no Iraque após conflagração com o Ocidente capitaneado pelos Estados Unidos. A esperança de novos tempos para os iraquianos continua apenas nas promessas numa terra arrasada pela guerra, conflitos étnicos e terrorismo. Desde a deposição e posterior enforcamento de Saddam, o país vive em permanente convulsão que nem mesmo os milhares de soldados norte-americanos e seus aliados ali baseados conseguem pôr um paradeiro.

Egito, Tunísia e outros países do Oriente Médio e da África terão o mesmo destino ou o clamor por mudanças será efetivamente alcançado em tempo relativamente curto? E a que preço para as populações? Eis aí indagações que apenas com o tempo será possível respondê-las.

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